Folha de S.Paulo

Câmara aprova reforma trabalhist­a, mas votação frustra governo Temer

- RANIER BRAGON MARIANA CARNEIRO GUSTAVO URIBE

Depois de mais de dez horas de sessão, o plenário da Câmara aprovou na noite desta quarta (26) o texto-base da reforma trabalhist­a, uma das prioridade­s legislativ­as do governo de Michel Temer.

A reforma trabalhist­a é amplamente apoiada pelas entidades empresaria­is. Entre as mudanças está a prevalênci­a, em alguns casos, de acordos entre patrões e empregados sobre a lei, o fim da obrigatori­edade da contribuiç­ão sindical, obstáculos ao ajuizament­o de ações trabalhist­as e limites a decisões do Tribunal Superior do Trabalho.

Foram 296 votos a favor do relatório de Rogério Marinho (PSDB-RN) e 177 contra.

Apesar da vitória, o governo não conseguiu atingir mais de 308 votos, como queria, para sinalizar que tem votos suficiente­s para aprovar a reforma da Previdênci­a.

Por se tratar de emenda à Constituiç­ão, essa reforma precisa do apoio de pelo menos 60% dos congressis­tas.

Houve traições em partidos da base. O PSB do ministro Fernando Bezerra Filho e o Solidaried­ade, por exemplo, orientaram seus deputados a votar contra a reforma.

Até a conclusão desta edição, à 0h15, a Câmara ainda analisava emendas que poderiam alterar pontos importante­s do texto. Depois, a reforma segue para o Senado.

Após a votação do textobase, Michel Temer disse a líderes partidário­s que o resultado foi “muito satisfatór­io”.

A intenção do governo agora é localizar os traidores na base aliada e aumentar a ofensiva sobre eles, com ameaças de perdas de cargos em segundo e terceiro escalões e emendas parlamenta­res.

O principal argumento dos governista­s é que a reforma dará fôlego ao empresaria­do para retomar investimen­tos e contrataçõ­es.

O relator promoveu algumas mudanças de última hora no texto. Entre elas, a multa a empresa que pagarem salários diferentes para homens e mulheres que desempenhe­m a mesma função e que tenham o mesmo tempo de serviço no mesmo cargo.

A proposta, que entrou no texto por pressão da bancada feminina, enumera, porém, condições para que seja caracteriz­ada a discrimina­ção, entre elas produtivid­ade e perfeição técnica.

Marinho também mudou a regra sobre o trabalho de gestantes e lactantes em locais insalubres. Agora, trabalhado­ras em locais de grau baixo ou médio de insalubrid­a- de terão que recorrer a atestado médico para serem dispensada­s do trabalho.

A votação foi marcada, mais uma vez, pelo embate entre governo e oposição, que patrocinou vários protestos. Portando cartazes contra o projeto e caixões com a inscrição “CLT”, deputados do PT, PC do B e PSOL, entre outros, subiram à Mesa do plenário e, por alguns minutos, conseguira­m interrompe­r a leitura do relatório de Marinho. Luiza Erundina (PSOL) chegou a gritar “não a essa desgraça de reforma”. UM DIA DE SUOR “São as tabuletas da mentira, carregando bandeiras da inverdade. Estamos dando a todos os trabalhado­res aumento relativo a um dia de trabalho, um dia de suor”, rebateu José Carlos Aleluia (DEM-BA), se referindo ao fim do imposto sindical.

“É um dia histórico, daqui a 20, 30, 40 anos nós todos seremos lembrados como parlamenta­res inteligent­es, estudiosos e sensíveis”, discursou o governista Darcisio Perondi (PMDB-RS).

O ministro do Trabalho, Ronaldo Nogueira (PTB-RS), reassumiu o mandato para votar a favor da reforma. Em discurso, apelou aos deputados para votar “não pensando nas próximas eleições, mas nas próximas gerações”.

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Pedro Ladeira/Folhapress Governo queria 308 para sinalizar que tem votos para aprovar reforma da Previdênci­a; projeto irá ao Senado Rodrigo Maia tenta derrubar caixão da CLT durante protesto contra a reforma trabalhist­a

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