Folha de S.Paulo

FUGA PELO RIO

Bandidos que atacaram empresa de valores no Paraguai estavam perto da ponte da Amizade, mas optaram por barco na travessia ao Brasil

- LEANDRO MACHADO EDUARDO ANIZELLI R i o I g u a ç u

ENVIADOS ESPECIAIS A FOZ DO IGUAÇU

O rio pode não ser o caminho mais curto, mas vem sendo considerad­o por criminosos como o mais seguro para passar do Paraguai para o Brasil sem levantar suspeitas, carregando dinheiro, drogas, armas ou cigarros falsificad­os.

Foi pelo rio Paraná que fugiram os responsáve­is pelo roubo milionário de uma empresa de valores em Ciudad del Este, na fronteira com o Brasil. Usaram dois barcos para atravessar as águas que dividem os dois países.

O roubo é considerad­o por autoridade­s do Paraguai como o maior da história do país. Segundo a polícia local, foram levados US$ 40 milhões (cerca de R$ 120 milhões). A transporta­dora Prosegur chegou a divulgar um valor menor em outros países (US$ 8 milhões), mas, segundo a assessoria da empresa no Brasil, houve um erro, e a informação não está confirmada.

A suspeita é que o megarroubo tenha sido praticado por membros da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital). Até esta quarta (26), 15 suspeitos haviam sido presos —todos brasileiro­s.

A ação foi bem planejada, segundo a polícia, para quem cerca de 30 pessoas participar­am do crime (incluindo paraguaios). Um mês antes, os criminosos alugaram um sobrado na rua Manday, bairro San José, a dois quilômetro­s da empresa de valores.

No final da noite de domingo (23), queimaram carros e caminhões para impedir que policiais se aproximass­em da sede da companhia.

Seis bombas explodiram as paredes blindadas, além de tiros de fuzis disparados da rua e do telhado de uma casa. Os homens usavam armamentos que as polícias brasileira e paraguaia não dispõem, como metralhara .50, capaz de derrubar aeronaves.

Na empresa, apenas três funcionári­os faziam a segurança. Um policial que estava na rua foi assassinad­o.

Depois de pegar o dinheiro, os homens fugiram em carros pela Supercarre­tera, rodovia que corta Ciudad del Este e passa próximo da usina de Itaipu. Em seguida, na margem do rio, numa área conhecida como Lago Itaipu, os criminosos pegaram dois barcos em direção ao Brasil.

Para policiais federais ouvidos pela Folha, os bandidos preferiram usar o rio Paraná porque essa é uma rota com menos fiscalizaç­ão do que a tradiciona­l travessia pe- la ponte da Amizade. É pelo rio que contraband­istas e traficante­s de drogas têm entrado com mercadoria no país.

Em linha reta, o rio Paraná tem 140 km. No entanto, o rio não é regular: há reentrânci­as que aumentam a margem em mais de mil quilômetro­s.

A opção de travessia pela ponte da Amizade seria o caminho mais próximo após o megarroubo, por estar a cerca de quatro quilômetro­s da empresa Prosegur. No entanto, o local é mais bem policiado, com postos da PF e da Polícia Rodoviária Federal.

Para o secretário de Segurança Pública do Paraná, Wagner Mesquita, a atuação das polícias do Paraguai e do Brasil nos últimos anos fez com que a ponte não fosse mais rota de grandes contraband­istas. “Há dez anos, isso aqui era inferno”, disse, em entrevista na terça (25).

Policiais afirmam que atu- Cataratas do Iguaçu 1 Casa onde bandidos supostamen­te planejaram megaassalt­o ARGENTINA 2 Sede da transporta­dora Prosegur, atacada na última segunda-feira 3 Local em que bandidos pegaram barcos para o Brasil após megarroubo 5 Santa Helena 4 Três suspeitos foram mortos em confronto com a polícia e outros quatro foram presos

5 Após dispersar, parte do grupo foi detida na cidade paranaense de Santa Helena 6 Homem de 37 anos, apontado como comandante do assalto, foi preso em um ônibus almente passam pela ponte só pequenos contraband­istas, com poucos produtos escondidos em carros de passeio. Segundo a Folha constatou, no entanto, poucos veículos são parados no local, dos dois lados da fronteira.

Parte dos ladrões que atacaram a Prosegur chegou de barco ao distrito rural de São José do Itavó, na cidade paranaense de Itaipulând­ia.

No local, depararam-se com policiais. Houve tiroteio e três suspeitos morreram — outros foram detidos. Parte do grupo fugiu para cidades como Santa Helena e Cascavel.

Segundo a PF, já foram recuperado­s R$ 4,5 milhões do total. Dois barcos foram apreendido­s —dentro deles havia fuzis abandonado­s.

Desde segunda, as polícias Rodoviária Federal, Civil e Militar, além da PF, fazem operação para tentar prender outros envolvidos no crime.

Segundo Fabiano Bordignon, delegado da PF, os criminosos se espalharam e podem não estar mais armados ou levando o dinheiro, o que dificulta a identifica­ção.

Nesta quarta, a PRF recebeu auxílio de 30 policiais de outros Estados para ajudar nas buscas. A corporação tem parado carros e ônibus que deixam as cidades próximas de Foz do Iguaçu para procurar os assaltante­s.

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Eduardo Anizelli/Folhapress Vista do Brasil a partir da ponte da Amizade, na divisa com Paraguai; bandidos atravessar­am o rio Paraná para fugir

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