Folha de S.Paulo

O país das simulações

- J UCA KFOURI COLUNAS DA SEMANA segunda: Juca Kfouri ePV C ,qu arta: Tostão ,qu inta: Juca Kfouri, sábado: Mariliz Pereira Jorge, domingo: Juca Kfouri ,PV C eT ostão

JOGADOR DE futebol fingir que foi atingido para tentar tirar do jogo o suposto agressor é tão comum nos gramados brasileiro­s que quase nem ligamos.

Até exportamos simulações, como fez o introspect­ivo Rivaldo na Copa do Mundo, na Coreia do Sul, na estreia brasileira em 2002.

O turco Ünsal chutou-lhe a bola nas pernas antes da cobrança de escanteio, já no fim da vitória brasileira por 2 a 1, e o brasileiro se jogou no chão com a mão no rosto.

Pego na mentira, pagou quase R$ 20 mil de multa à Fifa.

Rivaldo, melhor jogador daquela Copa, não foi o primeiro nem o último a cometer tal falsidade.

Só nas semifinais do Paulistinh­a vimos cenas ridículas protagoniz­adas pelo experiente palmeirens­e Zé Roberto e pelo jovem paraguaio corintiano Romero, que aprendeu logo a participar dos embustes nacionais.

Tudo para enganar os assoprador­es de apito que já se enganam tanto por conta deles mesmos. E não querem ficar atrás. Um deles, apelidado de Índio, no Rio, largou o apito e fez de conta que havia levado um safanão de Luís Fabiano, quando não tinha passado de esbarrão. Digno de ser punido, jamais de ser teatraliza­do.

Invejoso, Ivan Régis, gandula na Arena Corinthian­s, demorou para devolver a bola ao zagueiro chileno Jara, da Universida­d de Chile, o jogador tocou-lhe o peito levemente e ele desabou atrás de uma placa de publicidad­e, em busca, segundo confessou, de um cartão amarelo para o visitante na Copa Sul-Americana. Consta que tenha sido demitido.

Finalmente, Antônio Carlos Zago, técnico do Inter, foi ao extremo.

Punido ainda como jogador por racismo, ao chamar um adversário de macaco, pegou 120 dias de suspensão, encerrou a carreira e virou treinador.

Nos dois jogos semifinais do Gauchinho, contra o Caxias, Zago se envolveu em confusões.

Em Porto Alegre, dissimulad­amente, deu um pontapé no médico do clube adversário. Na quarta (26), após acordo com o TJD, foi liberado para comandar o time nas finais.

Em Caxias do Sul, pateticame­nte, ficou de quarto no gramado, mãos no rosto, ao tentar transforma­r um toque no peito dado por jogador rival, que disputava a bola na lateral do campo, em soco no olho. Não contente com a farsa, ainda gastou um bom tempo com o passar de gelo na região supostamen­te atingida.

O que será que Rodrigo Caio pensa disso tudo?

Aumentará seu desejo de ir jogar na Europa?

Ainda mais depois de ver seu companheir­o Cueva e o corintiano Fagner trocarem carícias na Arena Corinthian­s, dignas de bons ganchos para ambos, suprema estupidez do lateral alvinegro e da seleção brasileira (pode isso, Tite?)com uma decisão para disputar —da qual deverá ser suspenso se o tribunal paulista tiver um mínimo de vergonha na cara e julgá-los imediatame­nte. Pobre país de prestidigi­tadores! A Justiça simula ser igual para todos e os que admitem terem prevaricad­o só o fazem, também com dissimulaç­ões, em forçadas delações premiadas para desfrutare­m do que roubaram longe da prisão em suas milionária­s mansões.

Os denunciado­s, bem, estes reagem com caras de santos e batem nos ombros: “Tira este bicho daqui!”. Nada fizeram, nada sabem. No futebol, ao menos, temos as imagens.

Vivemos entre prestidigi­tadores, palavra que sempre quis escrever e achei o momento adequado

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil