Paredes exibem murais e câmeras de segurança
DO “NEW YORK TIMES”, NA CISJORDÂNIA
O site de Banksy afirma que o hotel Walled Off “oferece uma acolhida calorosa a todos, de todos os lados do conflito e de todo o planeta”.
Para quem vive do lado israelense do muro, porém, não é tão fácil visitar o lugar. Tecnicamente, a área está sob o controle de Israel, mas as estradas e os postos de controle fazem da jornada um problema legal complicado.
Quatro alunos da Universidade Hebraica, que admitiram ter medo da região, convenceram um amigo árabe a levá-los ao local há alguns dias. “Fica na Palestina, é perigoso”, disse uma das universitárias, Shaya Bon Stein, 29.
Três dos quatro eram estudantes de arte, e todos tentaram se vestir como europeus. Eles queriam ver o hotel e saber o que o empreendimento tem a dizer sobre o muro.
“Isso é uma piada?” é a primeira das perguntas que estão em destaque no site do Walled Off. A resposta talvez seja o aspecto menos irônico da empreitada: “Não. É um genuíno hotel de arte, com suítes plenamente funcionais e estacionamento limitado.”
O projeto não foi concebido para gerar lucro. O site diz que todos os rendimentos serão reinvestidos na comunidade. Ainda assim, o estabelecimento tem um ar de humor combinado ao comércio. O café é excelente, e o hotel serve “o melhor homus da região” (pelo menos segundo o pessoal da cozinha).
A melhor descrição quanto ao estilo do lugar seria “colonial decadente”, mas, em lugar de cabeças empalhadas de animais, as paredes exibem câmeras de segurança e estilingues. Uma galeria em um dos andares superiores, na qual obras de artistas palestinos são vendidas por preços que chegam a US$ 10 mil (R$ 31.570), oferece peças ainda mais valiosas de Banksy.
A mais notável é um mural que mostra um soldado israelense e um homem palestino usando um manto tradicional árabe, envolvidos em uma briga com travesseiros dos quais voam penas —uma evocação de “Duelo com Punhais”, de Goya, um quadro que mostra dois homens lutando de joelhos, condenados à proximidade e a tentar matar um ao outro.
Um boneco robotizado que representa Arthur Balfour, secretário do exterior britânico na época da Primeira Guerra Mundial, assinando o documento que embasou a fundação de um Estado judaico, cem anos atrás.
Faz 50 anos que Israel conquistou Jerusalém Oriental e Cisjordânia, na guerra de 1967 contra a Jordânia, dando início a uma ocupação que, por enquanto, é ao menos em parte administrada com a ajuda do muro.
Por fim, há a muralha em si. O concreto, visível da maior parte das janelas do empreendimento, a apenas alguns metros de distância, está coberto de pichações e mensagens como “Sr. Trump. Muralhas = ódio”. Havia pombas pousadas sobre o arame farpado do topo.
Saher Touna, 17, uma das visitantes palestinas de Nazaré, comprou um estêncil no mercado Wall Mart, ao lado do hotel, que vende tinta spray e empresta escadas.
“Minha terra é aqui, minha terra é aqui”, ela escreveu, em árabe. “É racista, e está aqui”, ela disse sobre o muro. “Podemos pelo menos tentar fazer alguma coisa de bonito com ele.” (IF)