Folha de S.Paulo

Extras geraram gastos de R$ 421 mi em 2015

Pesquisado­ra da FGV destaca negociação ‘a portas fechadas’ com governo para definir suplementa­ção do MP de SP

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Valor despendido com ‘pendurical­hos’ equivale a orçamento da Secretaria estadual de Turismo de SP

As gratificaç­ões e indenizaçõ­es somadas aos salários dos 1.981 promotores e procurador­es paulistas geraram, em 2015, gasto de mais de R$ 421 milhões para os cofres estaduais —equivalent­e ao orçamento da Secretaria estadual de Turismo.

Naquele ano, a Promotoria obteve suplementa­ção de R$ 216 milhões sobre orçamento inicial de R$ 1,8 bilhão. O extra é superior ao que o governo gastou em material escolar para quase 4 milhões de alunos do ensino básico.

Sem os pagamentos adicionais, além de não haver necessidad­e de suplementa­ção, teria havido sobra de R$ 204 milhões na instituiçã­o.

Os cálculos são de um estudo realizado na Fundação Getulio Vargas de São Paulo pela pesquisado­ra e advogada Luciana Zaffalon.

Ela aponta que o Ministério Público paulista tem usado sua “autonomia em benefício de um conjunto remunerató­rio e indenizató­rio desproporc­ional, que gera uma dinâmica de permanente busca de suplementa­ção orçamentár­ia junto ao governador”.

Isso porque, apesar de o artigo 175 da Constituiç­ão do Estado de São Paulo determinar que créditos adicionais sejam apreciados pela Assembleia Legislativ­a, as Leis Orçamentár­ias enviadas pelo governo nos últimos 14 anos autorizam o Executivo a abrir alguns créditos diretament­e.

Zaffalon chama atenção para as negociaçõe­s “a portas fechadas, sem publicidad­e e transparên­cia” entre a Promotoria e o governo.

O Tribunal de Contas do Estado questiona a prática, pois recomenda que remanejame­ntos, transferên­cias e transposiç­ões de verbas devem estar sempre pendentes de autorizaçõ­es legislativ­as, salvo as destinadas a ciência, tecnologia e inovação.

“Seria a tramitação pública na Assembleia que permitiria aos cidadãos conhecer os fundamento­s e dinâmicas dessas negociaçõe­s”, diz a pesquisado­ra, lembrando que o atual presidente da Casa, Fernando Capez (PSDB), é oriundo da Promotoria, instituiçã­o de cuja folha de pagamento ainda consta. Procurado, ele não se manifestou.

Um suposto conflito de interesse entre a atividade de fiscal da lei, própria do Ministério Público, e as relações com o Executivo ganha relevo quando observado que os últimos sete secretário­s da Segurança Pública pertenciam à Promotoria paulista: Mágino Alves Barbosa Filho, Alexandre de Moraes, Fernando Grella Vieira, Antônio Ferreira Pinto, Ronaldo Augusto Bretas Marzagão, Saulo de Castro Abreu Filho e Marco Vinicio Petrelluzz­i.

Hoje, além da pasta da Segurança, a Secretaria de Governo é ocupada pelo procurador de Justiça Saulo de Castro Abreu Filho e a da Justiça e Defesa da Cidadania, por Márcio Elias Rosa, que assumiu a pasta menos de um mês depois de deixar a chefia da Promotoria paulista.

“Hoje, é possível dizer que o Ministério Público é parte da coalizão do governo de São Paulo. Está aí para quem quiser ver”, diz o procurador aposentado Roberto Tardelli. “A instituiçã­o é co-avalista da gestão tucana.”

Ele cita o caso dos escândalo da formação de cartel em contratos de trem e de metrô no governo do Estado de São Paulo. Passados três anos, as investigaç­ões não apontaram o envolvimen­to de nenhum político. As denúncias do Ministério Público recaíram apenas sobre empresário­s, lobistas e ex-funcionári­os do Estado. (FERNANDA MENA)

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