Folha de S.Paulo

70% de juízes do TJ de São Paulo recebem além do teto

Salário em certos casos pode chegar a R$ 90 mil, acima do limite de R$ 34 mil

- FERNANDA MENA

Razão principal são os adicionais ao salário base; situação leva a suplementa­ções pelo Poder Executivo DE SÃO PAULO

Cerca de 70% dos juízes que constam da folha de pagamento do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) de março deste ano receberam vencimento­s acima do teto constituci­onal do funcionali­smo público, estipulado em R$ 33,7 mil.

O levantamen­to feito pela Folha apontou casos de pagamentos líquidos de mais de R$ 90 mil.

Em reportagem publicada nesta sexta-feira (28), a Folha revelou que 97% dos promotores e procurador­es de São Paulo receberam vencimento­s líquidos acima do teto em 2015, segundo pesquisa de Luciana Zaffalon na Fundação Getúlio Vargas de São Paulo.

De modo semelhante, há gratificaç­ões, auxílios e indenizaçõ­es previstas em lei ou fruto de decisões judiciais que incidem sobre os salários do Judiciário paulista, que variam de R$ 24,8 mil a R$ 30,4 mil.

Os membros do Judiciário paulista têm duas férias anuais,

RENATO NALINI

ex-presidente do TJ à TV Cultura, em 2014 além de recesso de final de ano.

Apenas na rubrica que inclui auxílios para alimentaçã­o, saúde, transporte, creche e moradia a juízes, o gasto no mês de março foi de R$ 13,7 milhões.

A incidência de pagamentos extras sobre os salários do Judiciário paulista tem levado à suplementa­ção do orçamento do TJSP, que, em 2015 foi de R$ 9,5 bilhões.

Apesar de o artigo 175 da Constituiç­ão do Estado de São Paulo determinar que créditos adicionais sejam apreciados pela Assembleia Legislativ­a, as leis orçamentár­ias enviadas pelo governo nos últimos 14 anos autorizam o Executivo a abrir alguns créditos diretament­e. PORTAS FECHADAS Zaffalon, autora do estudo, diz que as mesmas “negociaçõe­s a portas fechadas” por verbas suplementa­res que ocorrem entre a Promotoria paulista e o governo também são rotina entre o Judiciário e o Executivo de São Paulo.

O Tribunal de Contas do Estado questiona a prática, pois recomenda que remanejame­ntos, transferên­cias e transposiç­ões de verbas devem depender sempre de autorizaçõ­es legislativ­as, salvo as destinadas a ciência, tecnologia e inovação.

Para o consultor sênior da ONG anticorrup­ção Transparên­cia Internacio­nal, Fabiano Angélico, “o risco de corrupção neste cenário é muito grande”.

“O contexto de ‘pires na mão’, de buscar recursos com o Executivo, torna o controle social muito frágil. As negociaçõe­s não são feitas de forma aberta”, alerta.

O fato de o ex-presidente do TJ ter se tornado secretário de Educação do Estado, portanto subordinad­o ao Executivo paulista, menos de um mês depois de ter deixado a chefia do poder Judiciário de São Paulo agrava o quadro, segundo ele. “Parecem relações muito pouco republican­as”, avalia Angélico, referindo-se também ao fato de o governo ter outros secretário­s oriundos do Ministério Público paulista.

Esse auxíliomor­adia, na verdade, ele disfarça um aumento do subsídio [salário] que está defasado há muito tempo? Hoje, aparenteme­nte, o juiz ganha bem, mas ele tem 27% de desconto de imposto de renda, tem que pagar plano de saúde, tem que comprar terno e não dá pra ir toda hora a Miami comprar terno (...).

WÁLTER NUNES GABRIELA SÁ PESSOA

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Suamy Beydoun - 9.mar.2017/AGIF O ex-presidente do TJ Renato Nalini, que em entrevista defendeu os adicionais a juízes

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