Folha de S.Paulo

A exemplo de Obama, Macron encomendou uma pes-

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Emmanuel Macron acredita que sim, ele pode. Aos 39 anos e nunca antes eleito para um cargo público, ele pode, por exemplo, ser o próximo presidente da França.

Macron, favorito nas eleições do próximo domingo, dia 7, segue uma estratégia semelhante à que levou Barack Obama à Casa Branca em 2008 com o lema “Yes We Can”. “Sim, Nós Podemos.”

Sua campanha é baseada na mobilizaçã­o de ativistas, que há meses batem de porta em porta para entregar folhetos com seu programa de governo. A reportagem da Folha acompanhou uma dessas ações no mês passado em Lyon, ao sul de Paris.

O movimento centrista e independen­te Em Frente!, fundado por Macron em abril de 2016, tem 3.900 comitês locais de voluntário­s e organiza diariament­e centenas de eventos, como encontros com eleitores em potencial.

Grandes cidades, como Paris, são divididas em distritos com líderes regionais para coordenar os esforços.

Esse tipo de campanha é inédito na França e explica, em parte, como a candidatur­a de Macron desmontou o sistema político vigente.

Pela primeira vez na história moderna do país, os dois partidos tradiciona­is de direita e esquerda não chegaram ao segundo turno. Macron disputará com Marine Le Pen, da direita ultranacio­nalista.

Ele teve 24% dos votos na primeira rodada contra os 21,3% dela. Sondagens para 7 de maio sugerem que ele teria 60% dos votos.

O resultado seria, novamente, histórico: a primeira vez desde 1958 em que um candidato independen­te chega à Presidênci­a, derrotando partidos de estrutura sólida.

Macron e Le Pen se apresentam como nomes alheios ao sistema e, portanto, adequados para um eleitorado insatisfei­to. O governista Partido Socialista teve só 6,3% dos votos no primeiro turno. TECNOLOGIA quisa antes de lançar sua candidatur­a. Voluntário­s bateram em 300 mil portas. Cerca de 25 mil pessoas aceitaram participar da entrevista, que durou em média 14 minutos. As respostas serviram de base para a campanha.

A estratégia dependeu de

CESAR PIERRE

porta-voz da Liegey Muller Pons

Não mandamos e-mails. Reconectam­o-nos com as pessoas em uma época em que elas se sentem distantes da política e desconecta­das da elite

sua aliança com a firma de tecnologia eleitoral Liegey Muller Pons, fundada por três empresário­s franceses de menos de 40 anos que haviam sido voluntário­s na campanha de Obama em 2008.

Essa start-up foi responsáve­l pela coleta de dados, pela criação de um algoritmo para determinar a campanha e pelo treinament­o de 6.000 voluntário­s. Hoje não há um vínculo formal com Macron.

A empresa foi criada em 2013 quando Guillaume Liegey, Arthur Muller e Vincent Pons decidiram trazer à França o que haviam aprendido nos Estados Unidos.

Eles combinaram dados do censo com os resultados de eleições anteriores para determinar o enfoque da campanha. Com essas informaçõe­s em mãos, comitês locais puderam determinar em que bairros trabalhar.

Os ativistas acompanhad­os pela reportagem, por exemplo, distribuía­m folhetos de Macron em prédios previament­e identifica­dos.

“Nosso modelo é bastante semelhante ao que Obama fez em 2008 e em 2012”, disse à Folha Cesar Pierre, um porta-voz da Liegey Muller Pons.

Mas, ao contrário dos EUA, não é permitido utilizar dados de eleitores individuai­s na França. A empresa analisava regiões em grupos de 1.000 ou 2.000 habitantes.

O plano de enviar voluntário­s aos bairros vem, segundo Pierre, da convicção de que a política tem que ser feita no corpo a corpo.

“É preciso haver seres humanos no processo. Não mandamos e-mails. Reconectam­o-nos com as pessoas em uma época em que elas se sentem distantes da política e desconecta­das da elite.”

A tática foi em parte testada na campanha do socialista François Hollande em 2012 e pode ter contribuíd­o para sua vitória apertada contra o então presidente Nicolas Sarkozy, de centro-direita.

A inspiração do movimento Em Frente! na experiênci­a americana é pouco tímida. Na semana do primeiro turno, em 23 de abril, sua equipe divulgou um vídeo de uma conversa entre Macron e Obama.

Ao telefone, o ex-presidente americano desejou boa sorte ao candidato francês, gesto que não repetiu com Le Pen. A conversa não foi um apoio oficial, segundo um porta-voz de Obama, mas a mensagem pareceu clara.

Jacques Chirac (Centro-direita) x Lionel Jospin (Socialista)

Jacques Chirac (Centro-direita) x Jean-Marie Le Pen (Frente Nacional)

Nicolas Sarkozy (Centro-direita) x Ségolène Royal (Socialista)

François Hollande (Socialista) x Nicolas Sarkozy (Centro-direita)

 ?? Martin Buerau-27.abr.17/AFP ?? Emmanuel Macron (no centro), favorito na eleição presidenci­al francesa, faz corpo a corpo em Sarcelles, norte de Paris
Martin Buerau-27.abr.17/AFP Emmanuel Macron (no centro), favorito na eleição presidenci­al francesa, faz corpo a corpo em Sarcelles, norte de Paris

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