Folha de S.Paulo

Até de uma escada do Corpo de Bombeiros, a Aldeia foi mais uma vez desocupada.

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RETOMADA Marcelo Odebrecht, presidente da construtor­a, está preso. Eike e Cabral também. A Copa passou, assim como as Olimpíadas. O complexo do Maracanã não foi para frente da forma como fora concebido —uma área com lojas, espaço de alimentaçã­o e estacionam­ento que demandaria a demolição de todos os equipament­os do entorno do estádio, com uma escola, um estádio de atletismo e outro de natação, além do antigo prédio do Museu do Índio.

O edifício continua onde estava, abandonado. Sem ter como arcar com os custos do local, a concession­ária tenta devolver a concessão. O governo do Estado não tem dinheiro para pagar servidores em dia, nem para reassumir o estádio ou fazer qualquer obra no local.

Os índios sentiram que a falência do Estado era o momento para ensaiar a retomada do espaço.

Um grupo decidiu voltar, em outubro passado. Na impossibil­idade de reocupar o prédio, instalaram-se no estacionam­ento ao lado. Cerca de 20 pessoas habitam o local, numa população que flutua nos finais de semana. Eles vivem de doações e apoio de simpatizan­tes.

Quem vai ao estádio atualmente encontra seis ocas de palha e bambu instaladas sobre o asfalto, ainda demarcado com as vagas de estacionam­ento. Quase diariament­e, um grupo arrebenta o asfalto com picaretas e pás para chegar ao solo. Hoje, na Aldeia, o que se vê são hortas em desenvolvi­mento.

Diferentem­ente de tempos passados, a polícia não os incomoda. Em dias de estádio lotado, as autoridade­s cercam a o local com grades móveis. Barricadas com troncos foram colocadas pelos índios nos pontos de acesso ao estacionam­ento, impedindo a circulação de carros.

Os motivos dessa convivênci­a pacífica são dois, na visão de Urutau: o governo de Luiz Fernando Pezão, fragilizad­o com a grave crise fiscal, não teria interesse em atrair para si mais um foco de oposição.

Uma decisão judicial também permitiu que eles ocupassem o local. Uma ação civil pública foi movida pelos índios na Justiça Federal, requerendo o direito sobre o terreno. Eles obtiveram liminar que garante o manejo da terra no entorno do prédio enquanto a disputa não é julgada.

“Eu nem considero mais uma ocupação, porque agora temos direito a essa terra. Hoje nós chamamos de retomada”, diz ele.

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