Folha de S.Paulo

O lixo pede passagem

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LIXO É assunto de prefeito. Mas os municípios brasileiro­s estão em dívida com a Política Nacional de Resíduos Sólidos, que estabelece­u o prazo limite de agosto de 2014 para erradicar todos os lixões do país.

Em 60% das cidades, o lixo ainda é abandonado a céu aberto nos vazadouros que contaminam o solo e as águas, emitem gases poluentes e atraem vetores. Estima-se que 77 milhões de brasileiro­s sejam impactados diretament­e pelo descarte inadequado, com despesas extras na área da saúde estimadas em R$ 1,5 bilhão por ano.

Alagoas é o Estado que mais destina resíduos para locais impróprios (95,7% do total), Bahia é o que tem o maior número de lixões ou aterros em situação irregular (359) e São Paulo é o que destina —em números absolutos— o maior volume de resíduos a lixões (14 mil toneladas/dia), embora tenha o menor percentual de destinação inadequada do país (22,8%).

A crise econômica agrava a situação e abre caminho para a multiplica­ção dos lixões no Brasil. A dívida dos municípios com as companhias de limpeza —que respondem pelos serviços de coleta, transporte e destinação dos resíduos— alcançou, em fevereiro deste ano, a cifra recorde de R$ 10,6 bilhões.

De acordo com a Abrelpe (Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais), uma das principais causas da inadimplên­cia é a ausência de cobrança específica para os serviços de limpeza pública na maioria dos municípios brasileiro­s (65%).

Nessas cidades, os prefeitos (que já são obrigados a investir 15% da receita em saúde e 25% em educação, além de respeitar o teto de 60% com a folha de pagamento) se viram com raspas e restos do orçamento para cuidar do lixo.

Como a destinação adequada dos resíduos consome em média 5% da despesa corrente líquida do orçamento municipal —o equivalent­e a R$ 10,15 por habitante/mês—, essa conta não costuma fechar no azul.

Ou seja, nas cidades onde não há taxa de lixo ou recursos garantidos para a gestão dos resíduos via IPTU (ou mesmo através da conta de água), os prefeitos costumam dar calote nas empresas que realizam esse serviço e, não raro, despejam os resíduos a céu aberto.

Em vários países do mundo, governos estimulam o cidadão a reduzir ao máximo o volume de lixo por meio da reciclagem, compostage­m ou vermicultu­ra, ou ainda discrimina­ndo embalagens desnecessá­rias. Quem gera menos resíduos paga menos. Quem gera mais, paga mais. Já funciona assim quando se consome água, energia e gás. Chegou a vez de o lixo entrar na lista.

Estima-se que 77 milhões de brasileiro­s sejam impactados diretament­e pelo descarte inadequado

AMÉRICO JOSÉ escreve na próxima edição

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