Folha de S.Paulo

Menos pessimismo

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Após quase três anos de recessão, acumulam-se sinais tênues de melhora das condições econômicas. Inflação em queda, produção em tendência de alta e renda das famílias em equilíbrio, por exemplo, indicam que o pior já passou.

Não surpreende, assim, que o Datafolha tenha detectado redução do pessimismo quanto aos desdobrame­ntos da crise, mesmo no contexto de desaprovaç­ão crescente ao governo Michel Temer (PMDB).

A parcela dos brasileiro­s que esperam piora caiu para 31%, dez pontos percentuai­s abaixo do apurado ao final de 2016. Houve também expansão, de 37% para 45%, dos que confiam em melhora de sua situação pessoal.

Ainda incipiente, o movimento está calcado em elementos palpáveis. A começar pelo início de recuperaçã­o do poder de compra dos salários: a safra agrícola recorde freou os preços dos alimentos neste ano, o que beneficia em especial os segmentos de baixa renda.

A queda rápida da inflação, acompanhad­a de dissídios trabalhist­as relativame­nte elevados (refletindo índices anteriores de custo de vida), permite um espaço extra no orçamento doméstico, que pode ser direcionad­o ao consumo.

Para que isso se materializ­e, a volta da confiança desempenha papel crucial —dela depende a mudança nas decisões da parcela majoritári­a da população que continua empregada. Não se espere alguma nova onda de compras no crediário; a redução dos temores econômicos, no entanto, pode levar a despesas até aqui represadas.

Pelo lado da produção, além da agropecuár­ia, surgem boas notícias na indústria.

O setor foi o primeiro a cortar projetos e empregos, quatro anos atrás, num prenúncio do colapso geral que viria depois. Agora, os ajustes principais —de estoques e custos—estão feitos; há margem para voltar a crescer.

A última sondagem da Fundação Getulio Vargas indica alta na demanda por investimen­tos pela primeira vez desde 2013. Depois de amargar queda devastador­a, de 26% nos últimos três anos, a expectativ­a é de pequeno cresciment­o neste 2017, próximo a 3%.

De todo modo, ainda parece pouco provável que tais sinais traduzam-se em avanço palpável do bem-estar da população —com recuo do desemprego, por exemplo— antes do final do ano.

As expectativ­as de analistas e investidor­es permanecem cautelosas, à espera do desenrolar das reformas, em especial a da Previdênci­a. Um desfecho positivo pode não ser suficiente, mas é imprescind­ível para voos mais altos.

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