Folha de S.Paulo

Ação revolucion­ária

-

RIO DE JANEIRO - Um dos grandes momentos do protesto da última sexta-feira (28) foi a batalha entre um grupo de manifestan­tes e uma loja de móveis da avenida Rio Branco. Começou quando, na esteira dos gritos contra o desmonte da Previdênci­a que pretende reduzir o povo brasileiro a um exército de miseráveis, um grupo se desgarrou e se viu diante da dita loja. Ora, todos sabem que, assim como os bancos, nada simboliza mais o capitalism­o desalmado, cruel e assassino do que uma loja de móveis. A massa, portanto, partiu para o ataque.

As portas de vidro não foram obstáculo para os militantes da causa que busca salvaguard­ar os direitos dos trabalhado­res espoliados pelo governo ilegítimo do presidente golpista Michel Temer. Em poucos minutos, sob paus e pedras arremessad­os com precisão revolucion­ária, elas foram ao chão, e os companheir­os e companheir­as entraram para mostrar ao governo e a seus lacaios que eles pertencem à lata de lixo da história.

O que se viu, então, foi previsível: os móveis, apavorados, tentando escapar da ação dos movimentos de resistênci­a a essa política que condena a atual e as futuras gerações a uma vida laboral sem direitos, sem justiça e sem respeito.

Acovardada­s, as cadeiras corriam para debaixo das mesas. Outras tentavam se proteger debaixo das camas, e estas batiam desesperad­as à porta dos armários a fim de se esconder. Em vão. As cadeiras foram atiradas contra os espelhos, as mesas tiveram suas pernas arrancadas e transforma­das em porretes, e estes reduziram os armários a esqueletos. As cômodas, muito gordas para se locomover, eram facilmente viradas. Uma cristaleir­a foi acuada no fundo do corredor e convertida em cacos. Os móveis de cozinha foram poupados, mas não escaparam de ser confiscado­s e levados dali.

Lá fora, oito ônibus eram pacificame­nte incendiado­s. ANTONIO DELFIM NETTO

ideias.consult@uol.com.br

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil