Folha de S.Paulo

70% defendem fim do foro privilegia­do

Segundo Datafolha, maioria da população quer que políticos também sejam julgados pelas instâncias inferiores

- THAIS BILENKY

Eventual extinção deve ser compensada com medida que poupe políticos de ações ‘frívolas’, diz analista

Pode-se dividir a população nos mais variados grupos, por renda, gênero, escolarida­de ou região, e a conclusão será a mesma: a maioria dos brasileiro­s é a favor do fim do foro privilegia­do.

Segundo o Datafolha, 70% dos eleitores querem acabar com a prerrogati­va que políticos com mandato e juízes têm de serem julgados em órgãos superiores. Outros 24% defendem a manutenção desse instituto e 6% não sabem qual é a melhor saída.

Os homens são mais críticos que as mulheres (75% deles e 66% delas). Quanto maior o grau de escolarida­de, maior a oposição: 82% dos que têm nível superior, 74% dos que terminaram o ensino médio e 57% dos que pararam no fundamenta­l são contra.

Discutido desde o mensalão, pelo volume de casos que impôs ao Supremo Tribunal Federal, o foro especial voltou ao debate com a Lava Jato,quejálevou­amaisdecem inquéritos. Hoje, deputados, senadores e ministros são julgados pelo Supremo, governador­es, pelo Superior Tribunal de Justiça e prefeitos, pelos Tribunais de Justiça.

A pressão pelo fim do instituto, visto por parte da população como um instrument­o para políticos escaparem da Justiça, forçou a mudança no tom entre a classe política.

O senador Renan Calheiros (PMDB-AL), por exemplo, disse em novembro que não ti- nha pressa para votar a questão, que ele considerou “muito complicada”. Na semana passada, após aprovação a jato em primeiro turno de uma emenda que restringe o foro, Renan se mostrou satisfeito.

“Essa questão está sendo cobrada verdadeira­mente pela sociedade, então aproveitam­os a oportunida­de para acabar com o foro especial para todos os Poderes.”

Era um recado ao STF, que incluiu na pauta de maio o julgamento de um parecer que reduz drasticame­nte o volume de casos que competem ao tribunal. A emenda do Congresso acaba com foro inclusive para juízes, e a do Supremo não faz distinção e afeta sobretudo congressis­tas.

O argumento a favor do foro, exposto aos entrevista­dos do Datafolha bem como o contrário, é que o instituto preserva autoridade­s da influência de caciques regionais, que podem manipular juízes.

No Sudeste, 74%, e no Sul, 75% querem o seu fim. No Norte, são 61%, no Nordeste e no Centro-Oeste, 64%.

Os eleitores simpáticos ao presidente Michel Temer e a seu partido, o PMDB, estão menos empenhados em ver o fim da prerrogati­va: 56% e 62%, respectiva­mente. Por comparação, 74% dos que desaprovam a gestão e 79% dos simpatizan­tes do PSOL querem acabar com o foro.

O instituto esteve presente em todas as Constituiç­ões brasileira­s. A de 1988 o expandiu a todos os congressis­tas, na tentativa de protegêlos de ímpetos autoritári­os.

Para o professor Oscar Vilhena Vieira, da Fundação Getúlio Vargas, é preciso compensar a eventual extinção do foro com mecanismo que poupe políticos de ações arbitrária­s e “frívolas”.

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