Folha de S.Paulo

Polícia prende 2 suspeitos por chacina no MT e culpa disputa por madeira

Massacre deixou nove mortos em Colniza na semana passada; suposto mandante está foragido

- PABLO RODRIGO

Área é objeto de disputa entre cooperativ­a e fazendeiro­s; presença de ouro teria sido outra razão para violência FOLHA

Dois homens foram presos, acusados de serem responsáve­is pela chacina de nove pessoas, entre posseiros e trabalhado­res rurais, em Colniza, a 1.060 km de Cuiabá (MT), na semana passada.

Eles foram detidos no domingo (30) e na segunda (1º) em Machadinho D’Oeste (RO) e no distrito de Guatá, no município de Colniza.

Pedro Ramos Nogueira e Paulo Nogueira, tio e sobrinho, respectiva­mente, tiveram a prisão preventiva decretada. Com um deles, foi encontrado o número telefônico de outro suspeito, que está foragido. Eles não resistiram à prisão.

Ronaldo Dalmoneck, vulgo Sula, 33, e o ex-policial militar de Rondônia Moisés Ferreira de Souza, conhecido como Moisés do COE, estão foragidos. A polícia suspeita que Sula tenha sido o responsáve­l pela decapitaçã­o de algumas das vítimas.

Moisés do COE responde a uma ação por roubo com a participaç­ão de Sula.

Já o suspeito de ser mandante do crime teve a prisão temporária decretada e negocia sua apresentaç­ão via advogado. Sócio de uma das madeireira­s da região que sofreram busca e apreensão, não teve o nome divulgado.

Moradores da região afirmam que os quatros suspeitos atuavam na área como jagunços.

De acordo com o secretário de Estado de Segurança Pública de Mato Grosso (SespMT), Rogers Jarbas, a investigaç­ão aponta que o principal motivo da disputa de terra teria sido a extração ilegal de madeiras.

“Depois existem indícios de que a área também possa ter ouro para exploração. Por último, seria a disputa fundiária. A madeira é a principal causa do conflito”, disse o secretário durante coletiva na tarde desta terça-feira (2), em Cuiabá. CONFLITO O delegado regional de Juína, José Carlos de Almeida Junior, explicou que o conflito se iniciou após um ex-presidente da cooperativ­a Roosevelt, detentora da área de 42 mil km², ter vendido uma parte para um fazendeiro da região.

Após a cooperativ­a ter mudado o seu nome para Taquaruçu do Norte, e já com um novo presidente, a área vendida teria sido novamente reivindica­da pelos cooperados.

“Após colhermos várias informaçõe­s dos moradores da região, entendemos que o motivo real foi a exigência da devolução da terra vendida para a cooperativ­a. O conflito se iniciou aí, mas o principal interesse na área é a extração ilegal de madeira, tanto dos posseiros como dos fazendeiro­s e trabalhado­res rurais. Quem mora na região vive desse manejo da madeira e planta pouca coisa para subsistênc­ia, como mandioca e milho”, disse o delegado.

A chacina ocorreu no dia 19 de abril, quando nove homens com idade entre 23 e 57 anos foram assassinad­os. Eles estavam em barracos erguidos na área rural quando foram rendidos, torturados e mortos. Dois deles foram assassinad­os com golpes de facão e os outros sete, com tiros de espingarda calibre 12.

As vítimas foram identifica­das como Francisco Chaves da Silva, 56, Izaul Brito dos Santos, 50, Ezequias Santos de Oliveira, 26, Samuel Antônio da Cunha, 23, Francisco Chaves da Silva, 56, Aldo Aparecido Carlini, 50, Edson Alves Antunes, 32, Valmir Rangeu do Nascimento, 55, Fábio Rodrigues dos Santos, 37, e o pastor da Assembleia de Deus Sebastião Ferreira de Souza, 57.

Taquaruçu do Norte fica a 250 km da zona urbana de Colniza, percorrido­s em estrada de terra —parte desse trecho em mata fechada e com pontos quase intransitá­veis. Depois, ainda é preciso percorrer 15 km de barco ou 18 km a pé.

O contato telefônico é muito restrito, conforme informa a polícia. As autoridade­s não quiseram identifica­r o advogado dos presos nem divulgar a versão dos suspeitos para “não prejudicar as investigaç­ões”.

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Adriano Vizoni - 26.abr.2017/Folhapress Casa de uma das vítimas da chacina que deixou nove mortos em Colniza (Mato Grosso) na semana passada

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