Folha de S.Paulo

Políticos são principais suspeitos de violações contra jornalista­s

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DE CURITIBA

A maioria das violações graves contra comunicado­res no Brasil nos últimos cinco anos, como homicídios e ameaças, tem políticos como principais suspeitos, apontam relatórios produzidos pela ONG Artigo 19.

A entidade, que atua na luta pela liberdade de expressão, divulga nesta quarta (3) um novo documento sobre violações contra jornalista­s, radialista­s, blogueiros e donos de veículos de comunicaçã­o pelo exercício da atividade. Os dados são relativos a fatos ocorridos no ano passado.

São listados 31 casos em 2016 que envolvem assassinat­o, tentativa de homicídio, sequestro e ameaças de morte a comunicado­res —19 deles sob suspeita de serem cometidos por políticos, na maioria das vezes (64%) em cidades com menos de 100 mil habitantes.

Depois dos políticos, os maiores suspeitos são outros agentes públicos, em três casos, e a polícia, em dois.

Os quatro episódios sob suspeita de homicídio —nos Estados de Goiás, Paraná, Minas Gerais e Pará— têm políticos como principais suspeitos. Outras cinco mortes foram descartada­s no relatório porque a entidade não conseguiu evidenciar, durante a pesquisa, que elas estavam relacionad­as à profissão. “É uma situação geral de impunidade. Trazemos todos os anos esses números para que o Estado veja que as violações continuam ocorrendo, muitas vezes por agentes públicos”, afirma Júlia Lima, uma das coordenado­ras da entidade.

“Isso é uma questão sistemátic­a. Não são casos isolados e os padrões se repetem ano a ano. A gente precisa que o Estado entenda isso.”

A ONG levanta as informaçõe­s a partir de apurações com os envolvidos, seus familiares e a polícia. Segundo a coordenado­ra, as autoridade­s nem sempre colaboram com os dados, o que dificulta o levantamen­to.

São Paulo é o Estado com o maior número de violações considerad­as graves, cinco, seguido por Ceará e Maranhão, com quatro cada um.

O relatório sugere que o governo adote políticas públicas para a proteção de comunicado­res que se sentirem ameaçados, por meio de programa específico ou pela incorporaç­ão da categoria no PPDDH (Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos).

Como exemplo, são mencionado­s programas que protegem especifica­mente comunicado­res em outros países latino-americanos, como na Colômbia e no México. (JOSÉ MARQUES)

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