Hillary assume responsabilidade por derrota, mas culpa FBI e russos
Em rara entrevista após vitória de Donald Trump em novembro, democrata critica ex-adversário
Ex-candidata diz que carta de chefe do FBI e vazamento de e-mails de sua campanha espantaram eleitorado
Após longo silêncio, a democrata Hillary Clinton declarou nesta terça (2) assumir sua parcela de culpa pela derrota nas eleições presidenciais americanas do ano passado, mas também atribuiu à interferência de hackers russos e ao diretor do FBI a vitória de Donald Trump.
“Se a eleição tivesse ocorrido no dia 27 de outubro, eu seria a presidente”, afirmou à jornalista Christiane Amanpour, da CNN, no evento Women for Women em Nova York, organizado por uma instituição sem fins lucrativos com o mesmo nome.
No dia 28, uma semana e meia antes das eleições, o então diretor do FBI, James Comey, anunciou a abertura de novas investigações sobre o uso indevido de um servidor de e-mails privado por Hillary no período em que ela foi Secretária de Estado.
As declarações da democrata, que incluíram uma promessa de “resistência” e ativismo, ocorreram em uma rara aparição desde que foi derrotada por Trump em 8 de novembro. Foi a primeira vez que falou em detalhes sobre o resultado da votação.
Disse estar escrevendo suas memórias, em um processo descrito como “catártico”, “excruciante” e “doloroso”.
Embora tenha afirmado tomar para si “absoluta responsabilidade” por perder de Trump, Hillary não apontou erros de estratégia seus e de sua equipe nem admitiu fraqueza como candidata.
Tampouco ela falou do sentimento de indignação dominante em parcelas signifi- cativas do eleitorado americano, que, segundo parte expressiva dos analistas, levou à rejeição da política tradicional, da qual a democrata é representante, e à escolha de Trump, novato no meio.
Ao invés disso, Hillary atribuiu a derrota a forças externas. Disse ter sido vítima de misoginia e tratamento injusto pela mídia e apontou dois fatos como decisivos.
“Eu estava no caminho da vitória até que uma combinação da carta de Comey [sobre as investigações], no dia 28 de outubro, e do ‘Wikileaks russo’ [a suposta interferência de hackers que vazaram e-mails privados da campanha] levantaram dúvidas em pessoas que estavam inclinadas a votar em mim”, disse. BANCOS A divulgação das mensagens de seu chefe de campanha John Podesta, que teriam sido obtidas pelos supostos hackers, revelaram trechos de palestras ministradas pela candidata a bancos, com opiniões favoráveis ao mercado financeiro e ao livre comércio, em contraste com o discurso dela na campanha.
Hillary falou ainda sobre a
“
Se a eleição fosse em 28 de outubro [11 dias antes], eu seria a presidente” “Assumo total responsabilidade. Eu era a candidata. Estou ciente dos problemas e deslizes “
Estava a caminho da vitória até que a carta [do diretor do FBI sobre uma investigação] Jim Comey em 28 de outubro e o WikiLeaks russo assustaram as pessoas inclinadas a votar em mim
“ingerência sem precedentes” de um líder estrangeiro “que não é membro de meu fã-clube”, em alusão ao presidente russo, Vladimir Putin, com quem ela teve uma relação complicada como secretária de Estado e que, durante a campanha, foi elogiado por Trump e o elogiou.
Indagada se ela considerava que a misoginia havia contribuído para a derrota, afirmou que sim.
Em diversos momentos da entrevista, criticou as políticas e a conduta pessoal de Trump, sobretudo seu uso de redes sociais e a recente declaração —depois amenizada pela Casa Branca— de que poderia se reunir com o ditador norte-coreano, Kim Jong-un, sob condições adequadas.
‘Something nice’ O liberal Michael Kinsley publicou no “New York Times” um elogio aos tuítes do presidente americano, com o enunciado “Diga algo bom sobre Trump”, e avisou que passará a fazê-lo “regularmente”. O jornal já havia iniciado coluna linkando “Escritos partidarizados que você não deve perder”.