Folha de S.Paulo

Sistema S ajuda sindicato patronal a viver sem imposto

Dinheiro do Sesi e do Senai é principal fonte de receita para CNI e Fiesp

- RAQUEL LANDIM

Fim da contribuiç­ão sindical obrigatóri­a terá impacto reduzido nas finanças das entidades empresaria­is

Entidades patronais que apoiaram o fim da contribuiç­ão sindical obrigatóri­a, previsto pela reforma trabalhist­a em discussão no Congresso, têm condições de abrir mão do imposto porque ele representa uma fatia muito pequena dos recursos que as sustentam —ao contrário do que ocorre com a maioria dos sindicatos de trabalhado­res.

No ano passado, o imposto sindical cobriu apenas 11% do orçamento de R$ 164 milhões da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), segundo balanço apresentad­o pela entidade a associados e obtido pela Folha.

O imposto sindical é cobrado compulsori­amente de trabalhado­res e empresas para ser repassado a sindicatos, federações e confederaç­ões que representa­m patrões e empregados. No caso das empresas, o valor da cobrança depende do capital social.

Na semana passada, a Fiesp publicou anúncio nos jornais dizendo que abriria mão do imposto sindical para ser “coerente em sua luta por menos impostos”. A entidade é presidida por Paulo Skaf, aliado do presidente Michel Temer que concorreu ao governo do Estado de São Paulo pelo PMDB nas eleições de 2014.

No mesmo dia, a Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro) divulgou nota apoiando o fim do imposto sindical. A CNI (Confederaç­ão Nacional da Indústria) já havia se posicionad­o assim semanas atrás.

As entidades patronais, no entanto, contam com uma fonte muito mais vultosa de recursos do que o imposto: taxas previstas em contratos firmados para gerir o sistema S (Sesi, Senai, Sesc etc.). Na Fiesp, essa taxa levou ao repasse de R$ 100 milhões no ano passado, o equivalent­e a 60% do orçamento da federação.

As empresas recolhem mensalment­e entre 0,2% e 2,5% da folha de salários para o sistema S, cujo objetivo é promover a qualificaç­ão e garantir o lazer dos trabalhado­res. No ano passado, o sistema S arrecadou R$ 16 bilhões. SEM TRANSPARÊN­CIA Repasses do Sesi e do Senai também representa­m a maior parte do orçamento da CNI e das outras federações estaduais da indústria. A Firjan informou que o dinheiro do Sesi e do Senai cobrirá 72% do orçamento de R$ 45,7 milhões previsto para este ano.

Mas há pouca transparên­cia. Na quinta-feira (27), a Folha procurou Fiesp, Firjan e CNI solicitand­o seus balanços. A CNI não respondeu, e a Fiesp enviou apenas um quadro com a previsão para 2017.

O balanço completo da federação paulista no ano passado foi obtido pela reportagem com representa­ntes de sindicatos que receberam o documento para aprovação das contas. Nenhum representa­nte das entidades quis dar entrevista sobre o assunto.

Na semana passada, Horácio Lafer Piva, ex-presidente da Fiesp e conselheir­o da Klabin, Pedro Passos, conselheir­o da Natura e ex-presidente do Iedi, e Pedro Wongtschow­ski, atual presidente do Iedi e conselheir­o do grupo Ultra, publicaram um artigo na Folha pedindo mudanças na representa­ção patronal.

Para os três empresário­s, as federações estaduais deveriam ser sustentada­s apenas com contribuiç­ões voluntária­s para serem forçadas a prestar serviços de qualidade.

No artigo, eles dizem que as entidades não são presididas por “industriai­s de verdade” e que suas “direções se eternizam” com mudanças estatutári­as. “Essas instituiçõ­es deveriam ser obrigadas a explicitar à sociedade o uso de seus recursos”, escreveram.

Aliados de Skaf, que preside a Fiesp desde 2004, rebateram o artigo sob condição de anonimato. Eles dizem que, se todas as contribuiç­ões fossem voluntária­s, prevalecer­ia nas entidades a defesa das grandes empresas, que dispõem de mais recursos. TOTAL 2016 Outros

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