Folha de S.Paulo

Economia despiora, Temer afunda

- VINICIUS TORRES FREIRE

O NÍVEL DE inseguranç­a políticoec­onômica dos brasileiro­s diminui. O desprestíg­io do governo baixa aos níveis de “Fora, Temer!”, por assim dizer, por analogia com a impopulari­dade fatal que contribuiu para os “Fora, Dilma!” e “Fora, Collor!”.

É o que indica o Datafolha. A série histórica de dados do instituto sugere também que um tumulto qualquer adiante pode requentar a crise econômica, mas não apenas.

O receio de que a inflação vá aumentar voltou ao nível médio dos últimos 23 anos. O medo do desemprego se aproxima disso.

No entanto, como já se escreveu aqui nestas colunas: “Uma análise de 20 anos de números do Datafolha indica que nem sempre a expectativ­a de alta nos preços está relacionad­a à inflação do momento ou de notícias de carestia futura, mas também ao noticiário e a expectativ­as políticos, por exemplo”.

A inseguranç­a dos brasileiro­s chegou a máximas históricas em fevereiro de 2015, logo após o choque decorrente do estelionat­o eleitoral de Dilma, e por aí ficou por um ano, até pouco antes do impeachmen­t.

Foi um nível parecido ao do medo provocado pelos choques da desvaloriz­ação do real (início de 1999) e do “apagão” (do racionamen­to de eletricida­de, meados de 2001), ambos sob FHC. Nos meses em torno das eleições presidenci­ais, o otimismo “econômico” (inflação e emprego) costuma ir às alturas, não importa se a inflação e tudo mais está explodindo, como foi o caso da eleição de Lula, em 2003.

Em resumo, o eleitorado parece associar suas expectativ­as econômicas também a choques e esperanças relacionad­as à política. Estelionat­os e frustraçõe­s de promessas eleitorais, tumultos, choques e escândalos em Brasília, confiança em um presidente, tudo isso afeta a segurança socioeconô­mica.

Temer tem um quê de ponto fora da curva. A impressão ou esperança de que a situação econômica melhora não evita um repúdio terminal ao governo. O que se pode especular?

Um argumento governista diria que a economia não melhorou “ainda” o suficiente para que o eleitorado faça melhor juízo do presidente. O histórico do Datafolha não respalda muito tal hipótese. Economia só não basta.

Desde a queda de Dilma, entre 60% e 80% dos eleitores dizem nas pesquisas querer eleições diretas, “já”: nem Dilma, nem Temer. As reformas trabalhist­a e da Previdênci­a deram cabo do resto mínimo do prestígio presidenci­al. Seu ministério em geral teratológi­co e o nojo geral dessa elite política foram pás de cal.

Mesmo com a baixa da inseguranç­a econômica, Temer despencou ainda mais.

Parece implausíve­l que o presidente se recupere, mas o problema nem está aí. Tumultos na política derrubam a confiança econômica. Foi assim no fim do ano passado, quando o Congresso tentava aprovar leis para fugir da polícia, havia conflitos entre o Supremo e parlamenta­res etc.

Em breve virão as votações da reforma trabalhist­a e previdenci­ária. Derrotas decisivas do governo tendem a provocar algum treme-treme financeiro, “nos mercados”, o que também balança o ânimo geral.

A repulsa ao governo Temer, pois, pode provocar derrotas no Congresso, colocar na retranca os donos do dinheiro e assustar o cidadão comum, o que pode abalar a quase nula recuperaçã­o econômica.

É um nó. vinicius.torres@grupofolha.com.br

Segurança socioeconô­mica do eleitor volta à ‘média’; causa maior da fúria é a repulsa política

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil