Folha de S.Paulo

Empresário promete voltar para a África do Sul após sequestro da mulher

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DE SÃO PAULO

O empresário Rocelo Lopes, 44, dono da CoinBr, a maior empresa da América Latina para o comércio de criptomoed­as, contou à Folha como foram os momentos entre o sequestro e a libertação de sua mulher, na semana passada.

Quando meu telefone tocou, na tarde de quarta (26), a pessoa do outro lado disse: ‘Não desliga, nós estamos com sua esposa, e a gente quer 240 mil Zcash e 900 mil Moneros para libertá-la’.

Como eram valores absurdos, pensei que fosse um trote. Disse “tá bom” e desliguei.

Imediatame­nte, tentei falar com minha mulher, mas não consegui contato com ela, enquanto o rapaz do telefone insistia em querer falar comigo de novo. Foi então que soube que era algo sério. Estava sendo vítima da tecnologia que eu tanto defendo.

Infelizmen­te, tornei-me vítima de algo que tinha previsto que aconteceri­a no país.

Em 2015, quando meus pedidos de fiscalizaç­ão do setor foram ignorados pelos deputados em Brasília, eu disse: “Quando os senhores virem coisas ruins acontecend­o, não digam que não avisei”.

Fui negociando com os criminosos e expliquei que aquele valor era algo em torno de R$ 115 milhões. Era impossível. Mesmo se eu tivesse condições de comprar, e não tenho, não teria como porque não existe essa quantidade no mercado. Isso é o volume do país todo em um mês. Eles foram reduzindo o pedido até chegar em R$ 5 milhões.

Em termos de privacidad­e, essa tecnologia é muito boa. Jamais algum funcionári­o de banco vai poder dizer quanto eu tenho, porque na minha conta corrente eu nunca deixo mais de R$ 500. Faço isso para me proteger.

Para fazer a transferên­cia, é similar a mandar um e-mail. Um título ao portador com a chave, a senha. Aí, você pode trocar isso por outras moedas, inclusive por dinheiro, em qualquer parte do mundo, de forma muito rápida.

Infelizmen­te, essa privacidad­e financeira acaba ajudando quem quer fazer coisas erradas.

Minha mulher foi libertada no sábado (29), no mesmo dia em que minha filha completou seis anos de idade.

Até por isso, fretei um avião para trazer os policiais e minha mulher de São Paulo, para que ela pudesse ter tempo de abraçar minha filha, de dar os parabéns, antes da meianoite. E deu tempo. Ela tinha ficado com meus sogros e não sabia o que tinha acontecido. Pensava que estávamos em negócios em São Paulo.

Tínhamos escolhido Florianópo­lis pela segurança. Minha mulher fez uma pesquisa e decidimos morar aqui na cidade. Agora, iremos mudar daqui, voltar para a África do Sul, onde temos casa.

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