Folha de S.Paulo

Sobreviven­te e feliz, Sheryl Crow retoma sua verve roqueira

Tumores e ocaso de sua geração não foram páreos para a cantora de ‘All I Wanna Do’, que lança o nono álbum

- RAFAEL GREGORIO

Após disco country, ‘Be Myself’ marca volta em boa forma à mescla de rock e pop com que ascendeu nos anos 1990

Que o acento caipira e o sucesso não enganem: Sheryl Crow sempre foi roqueira.

Quem atesta é a própria, reconcilia­da com o rock após imersão na música country.

“Be Myself” marca o retorno à fórmula de hits como “All I Wanna Do”. Músicas novas, como “Roller Skate”, resumem-na: rhythm & blues + leve rebeldia adolescent­e + introspecç­ão + faro pop = bemestar e empoderame­nto.

“Soa como meus primeiros discos porque foi composto da mesma forma, e com um velho amigo”, ela explica.

A cantora se refere a Jeff Trott, com quem produziu os melhores álbuns da carreira: o melancólic­o “The Globe Sessions” (1998), favorito da cantora e da crítica, e o ensolarado “C’mon C’mon” (2002).

Rarearam os toques interioran­os, em instrument­os como acordeom e banjo, nos quais é fluente —grava também guitarras, violões e contrabaix­os. “Tenho muito do country, mas não é mais o mesmo que cresci ouvindo”.

E o que ela ouvia? “‘Exile on Main Street’, dos Rolling Stones.” A banda foi essencial para a garota meio atleta, meio “rainha do baile” crescida num então rural Missouri.

Filha de uma pianista e de um advogado, formou-se em composição e deu aula de música antes do primeiro trabalho: um jingle do McDonald’s.

Vieram shows como cantora de apoio de Michael Jackson, gravação com Stevie Wonder e o disco de estreia.

A excelência vocal ainda é o maior ativo. Já a ingenuidad­e lírica ao menos torna verossímei­s narrativas de tonalidade teen. Aos 55, ela canta “amo e choro o tempo todo e sinto que não quero crescer”. SUPERMÃE Mas cresceu e multiplico­u: Crow é uma mãe dedicada.

“É uma ocupação em tempo integral, e minha preferida”, diz, ao telefone, enquanto toma café em casa sua em Nashville, no Tennessee.

Ali vive com os dois filhos adotados, de 10 e 7 anos, com quem diz mais aprender que ensinar. Inclusive na música: “Gosto de Chainsmoke­rs, eles ouvem bastante”, afirma, sobre o duo de pop eletrônico.

Voltou à vida errante: a nova turnê tem 25 datas nos EUA e na Europa. E pode vir ao Brasil, onde cantou em 2001.

Mas, quando não está na estrada, é gente como a gente: namora —a lista de ex inclui Eric Clapton e o ciclista Lance Armstrong— e vê amigos, como Keith Richards.

Nas horas vagas, cozinha, malha e assiste “Stranger Things” e “House of Cards”, que, critica, “ficou parecida demais com Washington”.

A política é familiar: bisneta de um congressis­ta, é ativa em temas como meio ambiente e prevenção ao câncer. Abriu uma fundação para mulheres carentes após tratar um tumor na mama, em 2007 — teve também um no cérebro.

Declarando-se feminista de longa data, a cantora diz não crer que as relações estejam mais igualitári­as. “Ainda se fala mais sobre como uma mulher se veste ou dança do que daquilo que ela canta”.

O tempo acabou, ela avisa —12 minutos, usual em entrevista­s ao telefone com gente que vendeu 25 milhões de discos. Uma última questão, Ms. Crow: qual o sentido da vida?

“Ouvir a própria voz. Levei muito tempo, mas entendi.”

 ?? Ryan Pfluger/The New York Times ?? A norte-americana Sheryl Crow, reconcilia­da com o rock’n’roll no novo álbum ‘Be Myself’
Ryan Pfluger/The New York Times A norte-americana Sheryl Crow, reconcilia­da com o rock’n’roll no novo álbum ‘Be Myself’

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil