Folha de S.Paulo

A luta continua

- REINALDO FIGUEIREDO COLUNISTAS DA SEMANA: quinta: José Simão, sexta: Ricardo Araújo Pereira, sábado: José Simão, domingo: Marcius Melhem, segunda: Gregorio Duvivier, terça: José Simão

O poeta viu, no fundo do beco escuro, duas palavras de aspecto ameaçador: BRUTAMONTE­S e FACÍNORA

O POETA queria escrever um poema denso e intenso, que causasse uma forte impressão no leitor. Seguindo as orientaçõe­s de Edgar Allan Poe, escolheu para cenário um local soturno e lúgubre, um beco escuro, perto de um cemitério. E a hora seria a madrugada, bem depois da meia-noite. Mas o poeta, como todo poeta, era meio desligado e não percebeu que o local era muito perigoso e pouco policiado.

Enquanto ainda estava escolhendo cuidadosam­ente a métrica e as rimas que usaria no poema, o poeta viu, no fundo do beco escuro, duas palavras de aspecto ameaçador. Uma era BRUTAMONTE­S e a outra era FACÍNORA.

Aparenteme­nte sem qualquer motivo, o brutamonte­s partiu para cima dele, furioso, com os punhos cerrados. O poeta, por instinto, se desviou e conseguiu evitar o golpe. Quando o brutamonte­s, ainda mais raivoso, voltou para uma segunda investida, o poeta deu-lhe um pontapé no saco, atingindo com toda a força o escroto. Quer dizer, o poeta ficou satisfeito por ter atingido o escroto com duplo sentido: o escroto, a bolsa escrotal, e também aquele cara escroto, no sentido de indivíduo sem escrúpulos e desprezíve­l.

Mas aí o poeta observou que estava tergiversa­ndo, que também é uma palavra perigosa. Não era prudente ficar se distraindo com o verbo tergiversa­r —que também significa virar de costas— porque atrás dele, o facínora se preparava para atacá-lo com uma barra de ferro.

Nesse momento, o poeta se lembrou de que tinha trazido um Dicionário Houaiss, com capa dura, um Brasileira de Artes Marciais.

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