A luta continua
O poeta viu, no fundo do beco escuro, duas palavras de aspecto ameaçador: BRUTAMONTES e FACÍNORA
O POETA queria escrever um poema denso e intenso, que causasse uma forte impressão no leitor. Seguindo as orientações de Edgar Allan Poe, escolheu para cenário um local soturno e lúgubre, um beco escuro, perto de um cemitério. E a hora seria a madrugada, bem depois da meia-noite. Mas o poeta, como todo poeta, era meio desligado e não percebeu que o local era muito perigoso e pouco policiado.
Enquanto ainda estava escolhendo cuidadosamente a métrica e as rimas que usaria no poema, o poeta viu, no fundo do beco escuro, duas palavras de aspecto ameaçador. Uma era BRUTAMONTES e a outra era FACÍNORA.
Aparentemente sem qualquer motivo, o brutamontes partiu para cima dele, furioso, com os punhos cerrados. O poeta, por instinto, se desviou e conseguiu evitar o golpe. Quando o brutamontes, ainda mais raivoso, voltou para uma segunda investida, o poeta deu-lhe um pontapé no saco, atingindo com toda a força o escroto. Quer dizer, o poeta ficou satisfeito por ter atingido o escroto com duplo sentido: o escroto, a bolsa escrotal, e também aquele cara escroto, no sentido de indivíduo sem escrúpulos e desprezível.
Mas aí o poeta observou que estava tergiversando, que também é uma palavra perigosa. Não era prudente ficar se distraindo com o verbo tergiversar —que também significa virar de costas— porque atrás dele, o facínora se preparava para atacá-lo com uma barra de ferro.
Nesse momento, o poeta se lembrou de que tinha trazido um Dicionário Houaiss, com capa dura, um Brasileira de Artes Marciais.