Folha de S.Paulo

Corpo de Belchior é enterrado no Ceará

Cerca de 300 pessoas foram à cerimônia na terça, em Fortaleza; artistas de relevância nacional não comparecer­am

- IVAN FINOTTI

Pela manhã, fãs se despediram com missa de corpo presente realizada no Centro Cultural Dragão do Mar

Às 9h50 de terça (2), o corpo de Antônio Carlos Gomes Belchior Fontenelle Fernandes foi enterrado em Fortaleza, no Ceará, enquanto seus familiares cantavam “Mucuripe”, uma de suas primeiras composiçõe­s.

Parceria com Raimundo Fagner, batizada com o nome de uma praia de pescadores da capital, ela diz assim: “As velas do Mucuripe/ Vão sair para pescar/ Vou levar as minhas mágoas/ Pras águas fundas do mar/ Aquela estrela é delas/ Vida, vento, vela leva-me daqui/ Aquela estrela é dela/ Vida, vento, vela leva-me daqui”

O enterro aconteceu no cemitério Parque da Paz, em subúrbio ao sul da cidade, com a presença de 300 pessoas, entre familiares, amigos e imprensa. Belchior morreu em Santa Cruz do Sul (RS), após o rompimento da artéria aorta na madrugada de domingo.

Edna Prometeu, que foi sua companheir­a nos últimos anos, foi ao local empurrada em uma cadeira de rodas. Sua mão direita tremia incessante­mente.

Também estavam lá alguns irmãos do cantor —seu pai teve 23 filhos, a maioria dos quais ainda vivem— e Mikael e Camila Belchior, os dois filhos que ele teve com Angela Henman, a única mulher com quem se casou no papel.

Edna e a família de Belchior se mantiveram a uma distância respeitosa. No enterro, não trocaram palavra. Ela, que conheceu o amante em 2005, quando organizava uma exposição de quadros (Belchior também pintava), é vista como responsáve­l pelo fim do casamento de 35 anos com Angela Henman.

Também é apontada como motivadora do exílio do artis- ta, a partir de 2009.

Para as cerimônias desta semana, ela foi hospedada em Fortaleza na casa da filha da vice-prefeita de Sobral, cidade natal de Belchior, onde ocorreram as primeira homenagens, na manhã de segunda. MISSA Na terça-feira, antes do sepultamen­to, boa parte das cerca de 300 pessoas que acompanhav­am a missa para Belchior choraram quando o conjunto que tocava canções religiosas entoou clássicos do compositor.

“Na Hora do Almoço”, “Alucinação”, “Como Nossos Pais” e, finalmente, “A Palo Seco”, quando o caixão foi fechado, arrancaram lágrimas, coro e aplausos dos presentes no anfiteatro ao ar livre do Centro Cultural Dragão do Mar, entre 7h30 e 8h30.

Chorando sem parar, Edna Prometeu já não se sustentava sozinha em pé. Teve que ser amparada na saída.

No palco, além do padre e do corpo do artista, cerca de 30 familiares e amigos acompanhar­am sentados a leitura de textos bíblicos. “Eu sou o alfa e o ômega, o princípio e o fim”, disse certo trecho, extraído do “Apocalipse”. 8.000 NO VELÓRIO A cerimônia ocorreu após o velório, que atraiu 8.010 pessoas, desde as 15h de segunda, atravessan­do a noite toda até a manhã desta terça.

O público foi bem maior do que o esperado pela organizaçã­o do Centro Cultural Dragão do Mar, que calculava receber cerca de 3.000 pessoas.

O governador do Ceará, Camilo Santana, e o prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio, passaram pelo velório na noite de segunda.

Também esteve presente o pré-candidato à Presidênci­a Ciro Gomes —Sobral, cujo prefeito atual é Ivo Gomes (PDT), irmão de Ciro, é, além da terra de Belchior, a base política da família.

Nenhum artista de relevância nacional, como Belchior era, esteve nas cerimônias.

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Jarbas Oliveira/Folhapress Edna Prometeu na saída do velório de seu companheir­o

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