Folha de S.Paulo

Refis pra quem?

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BRASÍLIA - Com o objetivo de estimular a economia, o presidente Michel Temer enviou ao Congresso uma medida provisória que, convertida em lei, criará o Programa de Regulariza­ção Tributária (PRT), popularmen­te chamado de Refis.

Para as empresas é uma chance de refinancia­r dívidas com descontos sobre os juros. Muitas vezes, os juros extrapolam o débito original. Em troca, o governo recebe uma parcela da dívida adiantada. Em tempos de vacas magras, nada melhor a fazer.

Mas a realidade é que esse programa é um faz de conta que servirá para ajudar as corporaçõe­s que pagaram propina para gente grande —do governo passado e também deste governo— em troca de contratos que, em sua maioria, foram financiado­s pelo BNDES com juros subsidiado­s.

No Refis de 2000, o original, o governo só recuperou 2,3% das dívidas, cerca de R$ 2 bilhões. O restante (R$ 72,4 bilhões) foi cancelado porque as empresas descumprir­am as regras.

Em 2003, uma nova rodada foi aberta e no caixa da União só entraram R$ 4,5 bilhões de um total de 68,3 bilhões em dívidas inscritas.

Seis anos depois, veio o Refis da crise, medida que, segundo a Odebrecht, foi comprada com propina paga pela empreiteir­a. Mais da metade (64%) dos inscritos foi desqualifi­cada de partida ou teve o contrato cancelado. Dos que restaram, 26% liquidaram o acordo, todos egressos de programas anteriores.

Muitos devedores “cancelados”, empresas de pequeno e médio porte, disseram que a “crise pegou” e, por isso, priorizara­m o pagamento de funcionári­os e fornecedor­es.

Quem cuida da cobrança dessas dívidas afirma que, como foi aprovado nesta quarta-feira (3) em uma comissão do Congresso, o PRT só ajudará as 9 mil companhias que hoje concentram R$ 800 bilhões em dívidas —54% do total. Nesse grupo estão empreiteir­as da Lava Jato, seus fornecedor­es e empresas envolvidas em praticamen­te todas as últimas operações da Polícia Federal.

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