Folha de S.Paulo

Em guerra, Rio pede socorro

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RIO DE JANEIRO - As cenas que o Rio exibiu para o país nesta terça (2) —ônibus queimados, caminhões saqueados, traficante­s em guerra entre si e contra a polícia— são apenas o sintoma atual da metástase, causada pela derrocada do projeto de segurança pública do Estado.

Como num câncer, os primeiros indícios foram pouco notados: conflitos em favelas menores, aumento da criminalid­ade em áreas mais pobres. Depois vieram os sinais mais chamativos, como a guerra no Alemão, mas cuja dimensão não foi percebida por boa parte dos cariocas.

O que se viu na Cidade Alta na terça já foi expressivo e assustador a ponto de levar o Planalto a enviar ajuda. “O governo do Rio sozinho, ainda mais com a crise financeira, não consegue fazer a segurança toda do Estado”, disse o governador Luiz Fernando Pezão (PMDB), numa trágica admissão de incapacida­de.

Oanúncionã­osurpreend­e—nãohá mais nada que o governo peemedebis- ta consiga fazer sozinho no Estado, a começar por pagar salários. A ajuda federal na segurança é apenas a primeira das que se fazem necessária­s.

É também meramente paliativa. Cemsoldado­sdaForçaNa­cional,mais uns tantos policiais rodoviário­s, não serão capazes de impedir as guerras entre as facções do tráfico, menos ainda de reconquist­ar território­s perdidos após a derrocada do projeto das Unidades de Polícia Pacificado­ra (UPP).

Se quisesse tratar da questão a sério, Pezão precisaria recomeçar do zero, criando um novo plano de segurança. As perspectiv­as de que consiga fazê-lo são nulas, pelo simples fato de que não há mais dinheiro, que dirá planejamen­to.

Neste cenário, restam as ações temporária­s para tentar manter o Estado sob algum controle até a próxima gestão. Elas são ilusórias. Se tanques e soldados federais nas ruas resolvesse­m o problema da violência, o Rio já estaria pacificado desde 1992. marco.canonico@grupofolha.com.br

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