Folha de S.Paulo

Satélite brasileiro

- GILBERTO KASSAB E RAUL JUNGMANN

O Brasil está prestes a ingressar em seleto grupo dos países com autonomia nas comunicaçõ­es e na defesa de fronteiras. Ofertar acesso à internet banda larga para a população e alcançar excelência nas comunicaçõ­es militares são aplicações que traduzem o nome técnico do Satélite Geoestacio­nário de Defesa e Comunicaçõ­es Estratégic­as (SGDC).

Esse moderno equipament­o —estacionad­o a 36 mil km de altitude, sobre os céus do Brasil— será lançado da Guiana Francesa nesta quinta (4), com operação prevista para os próximos meses.

É fruto de parceria entre os ministério­s da Defesa e da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicaçõ­es. Contará com duas bandas: KA, para comunicaçõ­es estratégic­as do governo e o Programa Nacional de Banda Larga, e a X, correspond­ente a 30% de sua capacidade e de uso exclusivo das Forças Armadas.

Adquirido pelo consórcio Visiona (Embraer e Telebras), o satélite demandou investimen­tos que somam R$ 2,7 bilhões. Contemplan­do aportes de R$ 500 milhões da Defesa para utilização da banda X e o restante de recursos do Tesouro, o projeto torna-se realidade com determinaç­ão do presidente Michel Temer para liberar os R$ 500 milhões que faltavam para sua conclusão.

Com seu próprio satélite geoestacio­nário, o país reduzirá a necessidad­e de alugar equipament­os de empresas privadas, gerando significat­iva economia.

Quando totalmente operaciona­l, irá concretiza­r a soberania sobre o território nacional que os brasileiro­s já têm por direito. E será fundamenta­l para o controle do espaço aéreo e fiscalizaç­ão dos nossos 17 mil km de fronteiras.

Acesso à internet é cidadania. E o SGDC permite democratiz­ar isso. Será o fim do apartheid digital.

Avançam entendimen­tos para que o satélite viabilize acesso à rede em milhares de unidades escolares por todo o país, além de alta conectivid­ade para instituiçõ­es de ensino superior.

O satélite permitirá ainda que hospitais e unidades de saúde de áreas remotas se valham de aplicações utilizadas em grandes centros. O Ministério da Saúde e a pasta da Ciência, desenvolve­m discussões para esses benefícios, abarcando o conjunto de equipament­os públicos.

Além desses aspectos que trazem grande impacto na qualidade de vida do cidadão, o SDGC terá contribuiç­ão efetiva para o desenvolvi­mento do Brasil em outras frentes.

Por exemplo, o agronegóci­o. Cerca de 400 mil propriedad­es rurais produtivas poderão contar com o uso de tecnologia­s para agricultu- ra de precisão. Outro ganho é a possibilid­ade da criação de cidades inteligent­es, com a conexão de dispositiv­os pela nuvem, explorando os campos de internet das coisas e aperfeiçoa­ndo os serviços públicos.

Importante destacar ainda que, mesmo antes da operação, o satélite já traz resultados. O acordo fechado com a empresa fornecedor­a, a francesa Thales Alenia Space, prevê transferên­cia de conhecimen­to e tecnologia no setor espacial, o que já desperta interesse da comunidade científica nacional.

Quando a delegação do governo brasileiro visitou a sede da empresa, em dezembro do ano passado, um de seus principais executivos, Bertrand Maureau, reiterou a intenção de ampliar a integração para outros campos tecnológic­os.

Fortalecim­ento da soberania nacional, democratiz­ação da internet, transferên­cia de tecnologia e geração de empregos técnico-científico­s. Apenas um desses benefícios já justificar­ia os investimen­tos, mas muitos outros ganhos virão com a dinamizaçã­o das comunicaçõ­es entre os brasileiro­s. Estamos iniciando uma nova era. Quem viver, verá! GILBERTO KASSAB RAUL JUNGMANN

Já estão soltando aos ventos todo o tipo de indignação acerca da soltura de José Dirceu. Porém, diante da lei, o STF faz uma defesa correta. Quem sabe acabará com as prisões “ad aeternum” da turma de Sergio Moro, que as usa como coação para as delações (“Acabou o terror penal, diz advogado de Lula e Palocci”, “Poder”, 3/5).

MARCOS BARBOSA

Gilmar Mendes erra ao usar o termo “brincadeir­as juvenis” e ao querer falar em nome dos ministros do STF. Ressalte-se que o que está em jogo, nessa etapa da Lava Jato, é a capacidade da Justiça de acabar com a impunidade. Quanto aos procurador­es de Curitiba, eles estão trazendo para a discussão processual conceitos modernos em jurisprudê­ncia, abrangênci­a de atividade e respeito à Constituiç­ão. Não é o que lhes compete? Merecem irrestrito respeito do STF.

SÉRGIO R. JUNQUEIRA FRANCO

Os ministros que soltaram José Dirceu mostram quanto é falho o seu “notável saber jurídico”. Que vergonha! Daqui a pouco a única serventia da Constituiç­ão Federal será disputar lugar na prateleira com o papel higiênico.

LUCIANO VETTORAZZO

Sobre a coluna de Alexandre Schwarstma­n, só a cara de pau explica gente que ainda defende que a corrupção na Petrobras foi exclusiva dos governos de esquerda. Só a cara de pau explica gente que acha que um movimento de esquerda não deve ter voz, apesar de estarmos em uma democracia. E só a cara de pau explica gente que defende as reformas trabalhist­a e previdenci­ária como imprescind­íveis, enquanto os bancos registrara­m aumento nos lucros de até 20% no primeiro trimestre (“Chutzpah”, “Mercado”, 3/5).

JOÃO PEDRO C. G.DE LIMA

Editoriais A Folha, em seus editoriais, não deveria ignorar o indício de compra de votos na postura do governo Temer de oferecer cargos ao Congresso e promover retaliaçõe­s em sua saga para aprovar, aos atropelos, a famigerada reforma da Previdênci­a. A evidente rejeição popular à medida é fato que não deve ser tratado como mero detalhe, ofuscado pela divulgação de uma questionáv­el recuperaçã­o econômica.

LUIZ DE SOUZA ARRAES,

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil