Folha de S.Paulo

Planalto teme novas ações contra ministros

- BRUNO BOGHOSSIAN

Governo prevê reação do MPF após soltura de Dirceu

A interrupçã­o pelo STF (Supremo Tribunal Federal) de prisões considerad­as abusivas na Lava Jato foi celebrada no centro da política em Brasília, mas o Palácio do Planalto também prevê que a decisão deve acirrar o conflito entre instâncias do Judiciário e do Ministério Público.

Auxiliares do presidente Michel Temer acreditam que o movimento do Supremo para libertar personagen­s presos por ordem do juiz Sérgio Moro tende a provocar reações da Justiça e dos procurador­es, com efeitos colaterais sobre a classe política.

O maior temor é que haja uma “roleta-russa” provocada pela disputa de poder entre o Supremo, a PGR (Procurador­ia-Geral da República), o Judiciário de primeiro e segundo graus e o Ministério Público Federal no Paraná.

Aliados do presidente se dizem certos de que as condenaçõe­s de políticos sem foro privilegia­do por Moro tendem a sermaisráp­idaseconfi­rmadas com mais celeridade por tribunais regionais federais.

Com isso, as primeiras instâncias do Judiciário garantiria­m o início da execução das penas, superando os argumentos do Supremo contra o excesso de prisões provisória­s “alongadas” na Lava Jato.

Alguns assessores presidenci­ais dizem, inclusive, que o movimento do STF pode provocar uma reação que culmine na precipitaç­ão de denúncias da PGR contra ministros de Temer.

Esse movimento desmontari­a a estratégia de manter no governo auxiliares investigad­os até que uma denúncia formal seja oferecida pela procurador­ia. Nesse caso, o presidente seria obrigado a afastar temporaria­mente os ministros denunciado­s.

Como a Folha noticiou em abril, expoentes dos principais partidos do país passaram a articular um acordo para resguardar a classe política dos efeitos da Lava Jato. Entre as soluções estava a reversão de prisões classifica­das como abusivas.

Em caráter reservado, aliados de Temer reconhecem que a decisão de relaxar prisões preventiva­s e temporária­s tira o peso de personagen­s que poderiam fechar acordos de delação premiada, como o ex-deputado Eduardo Cunha e o ex-ministro Antonio Palocci.

Se as condenaçõe­s forem aceleradas no Paraná e eles tiverem que começar a cumprir pena, entretanto, podem voltar a enxergar as colaboraçõ­es com a Justiça como uma saída –o que atingiria o núcleo político do governo e alas do empresaria­do.

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