Folha de S.Paulo

Petista deixa a prisão em meio a manifestaç­ões

- DE CURITIBA

Usando tornozelei­ra eletrônica e proibido de sair do país, o ex-ministro José Dirceu deixou a sede da Justiça Federal em Curitiba no fim de tarde desta quarta (3), um dia após o STF decidir pela sua soltura.

Ele seguiu para Brasília e não poderá se deslocar para fora da capital, a não ser que a Justiça autorize mudança para outra cidade.

As determinaç­ões foram dadas pelo juiz Sergio Moro, que assinou no final da manhã o despacho que autorizava a saída de Dirceu do Complexo Médico Penal em Pinhais, na Grande Curitiba, onde o ex-ministro estava preso desde 2015.

Moro também proibiu que o ex-chefe Casa Civil do governo Lula converse com outros réus e testemunha­s nas ações penais que responde na Lava Jato.

“Consideran­do que José Dirceu de Oliveira e Silva já está condenado a penas totais de cerca de 32 anos e um mês de reclusão, há um natural receio de que, colocado em liberdade, venha a furtar-se da aplicação da lei penal”, disse Moro, na decisão.

Com escolta da Polícia Federal, José Dirceu chegou por volta das 16h30 ao prédio da Justiça Federal. Do lado de fora, manifestan­tes faziam atos contra e a favor do ex-ministro.

A Polícia Militar fez um um cordão de isolamento entre os grupos, para evitar conflitos. De um lado, vestidos de preto, manifestan­tes seguravam uma faixa: “A Lava Jato prende e o STF solta”. Do outro, pessoas de vermelho comemorava­m a saída da cadeia.

Antes de Dirceu deixar a prisão, seu advogado pediu a Moro a mudança de endereço —no processo, ele constava como morador da cidade de Vinhedo (SP)— e o sigilo sobre o local de residência em Brasília. O segredo, segundo Podval, é “para evitar qualquer transtorno”. PELO RÁDIO Foi por meio de um programa de rádio que Dirceu soube da decisão do STF. Na tarde de terça (2), o petista ouviu a decisão de Gilmar Mendes, que desempatou os votos da Segunda Turma a seu favor.

Até então, Dirceu tinha sido comunicado por um dos advogados que o visitou que Ricardo Lewandowsk­i e Dias Toffoli haviam decidido pela soltura e Edson Fachin, relator da Lava Jato, e Celso de Melo, pela manutenção.

A notícia, porém, foi encarada por Dirceu de maneira realista, segundo interlocut­ores. A pessoas que estiveram com ele após a decisão, o ex-ministro reforçou a tese de que é um preso político e afirmou que continuará sendo perseguido pela Lava Jato.

Ele contou que estudou a terceira denúncia apresentad­a pela força-tarefa de Curitiba também na terça e disse que encontrou trechos iguais aos das duas já oferecidas pelos procurador­es.

Envolvidos na defesa do petista também mostraram descrença de que a liberdade de Dirceu vá durar.

Acreditam que há a possibilid­ade de o Tribunal Regional Federal da 4ª região julgar e condenar o político em segunda instância até a próxima semana, o que o levaria novamente à cadeia.

Pessoas próximas relataram que Dirceu vai morar na capital federal para ficar com a mulher, Simone Tristão, e a filha deles, Maria Antônia, de 6 anos. A ideia é que ele fique no apartament­o onde as duas moram. (JOSÉ MARQUES E BELA MEGALE)

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