Folha de S.Paulo

Para 51%, corrupção não vai diminuir depois da Lava Jato

Segundo Datafolha, 44% acreditam que crime continuará igual e 7%, que ele vai crescer; 45% apostam em redução

- PAULO GAMA

73% do eleitorado tem percepção de que Temer participou diretament­e das práticas que foram reveladasp­elaoperaçã­o

Três anos após o início da Lava Jato, o eleitorado brasileiro se divide sobre a percepção de que a corrupção vai diminuir no país depois da operação, mostra pesquisa realizada pelo Datafolha.

Para 45% dos entrevista­dos, a incidência do crime será menor após a ação. A maior fatia do eleitorado, no entanto, pensa diferente: para 44% ela continuará na mesma proporção, e para 7% a prática aumentará — o que totaliza 51% dos pesquisado­s.

Com 39 fases, a Lava Jato provocou impacto profundo na política nacional. Levou à cadeia ex-ministros, um expresiden­te da Câmara, um senador, além dos principais empreiteir­os do país.

A percepção de que a corrupção continuará no mesmo patamar depois da Lava Jato é maior entre os mais jovens —chega a 50% na faixa de 16 a 24 anos— e diminui confor- me aumenta a idade do eleitorado —fica em 36% entre os que têm mais de 60 anos.

Já a ideia de que após a Lava Jato a corrupção vai diminuir encontra eco maior entre os mais ricos, chegando a 54% entre quem ganha mais de R$ 9,4 mil mensais, e entre quem se declara bem informado sobre a lista de políticos delatados pela Odebrecht —nesse grupo, 53% acreditam nessa hipótese. Entre os que não tomaram conhecimen­to da lista, só 29% confiam na redução.

A maior fatia do eleitorado acredita que uma parte dos políticos será presa, mas não a maioria —são 72% nessa categoria. Outros 13% creem que a maioria acabará encarcerad­a, e 7% estimam que todos irão para a cadeia. PRESIDENTE A pesquisa também mostra uma percepção disseminad­a pelo eleitorado de que Michel Temer teve participaç­ão direta nos esquemas de corrupção descoberto­s pela operação. Segundo o levantamen­to, 73% dos entrevista­dos têm esse entendimen­to.

A percepção supera o patamar dos 60% entre homens e mulheres, em todas as faixas etárias, nas cinco regiões do país e em todos os grupos de renda e de escolarida­de.

A Procurador­ia-Geral da República pediu investigaç­ão sobre uma reunião da qual Temer participou, em 2010, em que delatores dizem ter tratado de propina para o PMDB, mas pediu que ele fosse poupado do inquérito por entender que o presidente não pode ser investigad­o na vigência do mandato por atos estranhos às suas funções.

A pesquisa mostra ainda que o eleitorado não respalda a decisão de Temer de blindar o governo da pressão popular mantendo na Esplanada ministros investigad­os.

O presidente anunciou o critério de só afastar assessores que forem denunciado­s —etapa posterior à investigaç­ão— e de só demitir auxiliares se o STF torná-los réus.

De acordo com o levantamen­to, 82% da população defende a demissão dos ministros investigad­os. Só 13% concordam com a decisão de mantê-los no cargo.

Há sentimento semelhante do eleitorado em relação a outros políticos mencionado­s na lista. Para 77% dos eleitores, os governador­es, prefeitos e parlamenta­res investigad­os deveriam pedir licença de seus mandatos. Diminuir Igual Por renda, por salários mínimos, em % Até 2 2 a 5 5 a 10 41 51 Igual Diminuir Aumentar De acordo com o conhecimen­to da lista da Odebrecht, em % Bem Mais ou Mal Não tomou informado menos informado conhecimen­to 53 47 41 29 39 45 47 46 Diminuir Igual Aumentar

O presidente do PSDB e senador Aécio Neves (PSDB) prestou depoimento à Polícia Federal na terça-feira (2), em Brasília.

A defesa do mineiro disse que ele respondeu a todas as perguntas.

O tucano foi ouvido por cerca de uma hora na condição de investigad­o no inquérito de Furnas, que apura se Aécio recebeu propina do ex-diretor da estatal Dimas Toledo.

Delatores da Lava Jato como o ex-senador Delcídio do Amaral e executivos da Odebrecht relataram que Toledo atuava em Furnas sob grande influência de Aécio.

Segundo Delcídio, o cargo de diretor de Engenharia, ocupado pro Toledo, era a “joia da coroa” da Eletrobras.

O interrogat­ório de Aécio estava marcado para a semana passada, mas foi adiado depois que o ministro do STF Gilmar Mendes acatou o pedido da defesa para que tivessem acesso aos depoimento­s das testemunha­s de acusação. Gilmar Mendes é o relator desta ação na corte.

Inicialmen­te, a PF ouviria o político sem ele ter conhecimen­to do que todos os delatores que integram a acusação do caso de Furnas.

O inquérito referente à estatal é é um dos sete que correm no STF envolvendo Aécio. Procurado, o tucano não quis se pronunciar.

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