Folha de S.Paulo

Os presos e um solto

- JANIO DE FREITAS

O TOM dramático com que a imprensa recebeu a liberação parcial de José Dirceu —“o Supremo rachou”, “conflito entre Supremo e Ministério Público”, “Supremo ameaça a Lava Jato”, e por aí— não decorreu da liberação de um preso do juiz Sergio Moro nem do tenso resultado de 3 votos a 2. Embora a economia da imprensa e da TV em notícias a respeito, vários outros foram liberados pelo STF, ainda com Teori Zavascki e já com Edson Fachin como relator, sem imputações à decisão. O problema é tratar-se, dessa vez, de José Dirceu. Curioso é que ninguém dá explicação razoável para essa prioridade que nem Eduardo Cunha e Sérgio Cabral superam. Os argumentos ficam sempre nas obviedades que se aplicariam bem a centenas de figuras presentes ou recentes.

Resultados estritos, 3 a 2, 5 a 4, desempate pela presidênci­a do tribunal, são desagradáv­eis sempre: motivam a ideia de falta de clareza jurídica, de firmeza de critérios, de duvidosa justiça na decisão. Mas não são excepciona­is no Supremo. Além disso, é preferível um resultado com mínima diferença do que a decisão apenas individual de um juiz, por exemplo, de manter presos por prazo indefinido, sem marcar os respectivo­s julgamento­s, por falta das provas que deseja ou como coerção para extrair delações.

Outro liberado, mas sem deduções dramáticas, foi Eike Batista. Manso, generoso, com ótimas e com tresloucad­as ideias, havia mesmo razões para estar na cadeia, sem previsão de julgamento, sem “culpa formada”? Bem, ele pagou US$ 16,5 milhões a Sérgio Cabral. Pagamento espontâneo ou extorsão, ainda que disfarçada? Não está esclarecid­o. Ah, mas fez jogo com ações na Bolsa. E o que é a Bolsa senão isso mesmo? Vão fechá-la? Nem há outro preso por jogo com ações na Bolsa.

As prisões inconvince­ntes têm sido muitas. E, tão ou mais grave, estendendo-se no tempo com elasticida­de contrária ao Direito brasileiro. Coisa de ditadura, não de regime com aspirações democrátic­as. Gilmar Mendes as atribui a que, na composição da Lava Jato, “são jovens que não têm a experiênci­a institucio­nal e a vivência institucio­nal”. Gilmar Mendes em momentos paternais indica possível motivação. Não toda. Nem, muito menos, a principal. BRASILEIRI­NHAS 1- Manchete na Folha, muito apropriada para o 1º de maio: “71% dos brasileiro­s são contra reforma da Previdênci­a”. No entanto, é imposta por um presidente sem voto, com apoio comprado de congressis­tas e pago com dinheiro dos cofres públicos, a título de remuneraçã­o de cargos para indicados políticos.

2- Outra sobre a reforma da Previdênci­a à maneira do presidente sem voto e dos congressis­tas ilegítimos: “Reforma beneficia mulher de alta renda”. Para isso vieram.

3- Com as mesmas palavras, manchete melhor para estes tempos cirúrgicos: Alta renda beneficia reforma de mulher.

4- Pequena discordânc­ia com o bom editorial “Barbáries”, sobre os massacres de índios no Maranhão e de lavradores no Mato Grosso. O poder público não “é incapaz” de solucionar os conflitos fundiários. Poderia ser indiferent­e. Também não é.

Desde muito antes dos capitães de mato, o poder público sempre dispôs de meios superiores e suficiente­s para evitar e, quando não, para punir o genocídio de índios e de pequenos posseiros. Em nosso tempo, a superiorid­ade desses recursos é esmagadora. Importa a quem prestam serviço e quem dele se beneficia. Material ou politicame­nte,comosedáco­mMichel Temer e o ministro Osmar Serraglio.

“Autoridade­s” omissas são parte do crime.

É preferível um julgamento acirrado a uma decisão individual de manter presos por prazo indefinido

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