Macron e Le Pen trocam acusações em debate final
Centrista acusa adversária de mentir; ela o chama de leniente
Vinte pontos atrás em pesquisas, direitista usa embate para frisar ligação de rival com governo impopular
Logo no começo do debate do segundo turno das eleições francesas, na noite desta quarta (3), Marine Le Pen mostrou a que veio.
Mal abriu a boca, chamou o rival Emmanuel Macron de “candidato da globalização selvagem” e da “uberização generalizada”, aproveitando para frisar a ligação do centrista com o impopular presidente socialista François Hollande, de quem foi ministro da Economia.
Cerca de 20 pontos percentuais atrás do líder do movimento “Em Frente!” e a quatro dias da votação, a candidata da Frente Nacional usou o único debate do segundo turno para tentar avançar.
Sua estratégia foi o ataque ao passado de Macron no mundo financeiro e no Partido Socialista, vistos com desconfiança pelo eleitor .
Ela o acusou de defender, com seu liberalismo econômico, uma “guerra de todos contra todos” e de fazer o jogo de interesses da Alemanha. “A França será governada por uma mulher: eu ou Angela Merkel”, afirmou, em referência à chanceler alemã.
Le Pen também acusou o adversário de complacência com o fundamentalismo islâmico —a plataforma da FN é centrada na aversão ao islã.
“Diante da expansão do fundamentalismo islâmico em nosso território, temos de expulsar os pregadores do ódio. A UOIF é uma associação islamita que expressa seu ódio em relação aos judeus, aos homossexuais”, disse ela.
A UOIF é a União das Organizações Islâmicas da França, entidade que realizou em abril seu encontro anual de muçulmanos franceses no qual alertou para o risco de partidos ultranacionalistas, como a Frente Nacional.
O debate chegou então ao tema do terrorismo e da prevenção de ataques como o que deixou 130 mortos em Paris em novembro de 2015.
“Vou liderar um embate contra o terrorismo islâmico em todos os níveis. Mas o que eles querem, a armadilha que estão armando, é aquela que você oferece: a guerra civil”, disse Macron a Le Pen.
Nos 150 minutos de debate, o centrista conseguiu pressionar Le Pen sobre o euro, a moeda comum europeia que a candidata quer abandonar. Ele cobrou que ela dissesse explicitamente que quer restituir o franco, fazendo Le Pen se confundir e dar respostas ambíguas.
O centrista também acusou a adversária de mentir ao falar de seu passado político e subiu o tom, no fim do debate, chamando-a de “parasita” do sistema político. A candidata rebateu: “Que classe”. (DIOGO BERCITO E RODRIGO VIZEU)
“governada por uma mulher: eu ou Angela Merkel
MARINE LE PEN
candidata da Frente Nacional (direita ultranacionalista)
EMMANUEL MACRON
candidato do Em Frente! (centro)
a guerra civil