Folha de S.Paulo

Indústria cai em março e tem alta tímida no trimestre

- LUCAS VETTORAZZO

A equipe econômica do presidente Michel Temer calcula que a economia brasileira tenha crescido 0,8% no primeiro trimestre em relação ao trimestre anterior e avalia a possibilid­ade de rever a projeção oficial para o cresciment­o deste ano, atualmente de 0,5%.

Na avaliação dos economista­s do governo, melhoras na safra agrícola e nas vendas do varejo, impulsiona­das pelos saques nas contas inativas do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço), injetaram ânimo na economia.

Os números do PIB (Produto Interno Bruto) no primeiro trimestre serão divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a) em junho. Se a previsão dos economista­s do governo se confirmar, será o primeiro trimestre positivo desde o início da atual recessão, em 2014.

Nesta quarta (3), o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, afirmou que poderá revisar para cima a previsão de cresciment­o para 2017.

“O Brasil já está crescendo a um ritmo [anualizado] de 3% no primeiro trimestre. Deve cair um pouco no segundo trimestre e voltar a se recuperar no segundo semestre.”

Segundo ele, “há um viés de alta” na projeção oficial. Mudanças metodológi­cas feitas pelo IBGE, que ainda estão sendo estudadas no governo, poderão influir no resultado, porque provocaram uma revisão para cima dos dados do comércio e dos serviços.

Em conversas com representa­ntes do setor privado, o ministro da Fazenda tem dito que o país saiu da recessão e aponta dados recentes para comprovar sua tese —o licenciame­nto de automóveis cresceu 24%, o transporte de carga nas estradas, 12%, a produção de papelão para embalagens, 11%, e o consumo de energia aumentou 12%.

Entre os números apresentad­os por Meirelles também estão lucros exibidos nos balanços mais recentes pela mineradora Vale, pelo grupo Pão de Açúcar, pela Natura, pelo Bradesco e pelo Santander. PREVIDÊNCI­A Apesar da expectativ­a otimista, Meirelles segue apreensivo com o andamento da reforma da Previdênci­a. Em conversas reservadas, o ministro diz que o governo cedeu “até onde podia” para viabilizar a aprovação da proposta no Congresso e que novas concessões seriam malvistas no mercado financeiro.

Segundo o ministro, não há mais o que a Fazenda possa fazer e cabe à ala da política do governo trabalhar para assegurar os 308 votos necessário­s para aprovar a reforma no plenário da Câmara.

O núcleo político do governo, com os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Antonio Imbassahy (Secretaria de Governo) à frente, já fez chegar à Fazenda a avaliação de que, diante da dificuldad­e para alcançar os 308 votos, a votação do projeto no plenário deve ficar para junho.

A produção industrial brasileira recuou 1,8% em março ante fevereiro, mostrou o IBGE nesta quarta-feira (3). Segundo analistas ouvidos pela Folha, os sinais de retomada do setor ainda tendem a surgir. A queda na produção surpreende­u o mercado.

Apesar do recuo, a produção registrou altas se comparadas aos dados de 2016. Em março, em relação ao mesmo mês de 2016, a indústria teve alta de 1,1%. No primeiro trimestre, o ganho na produção foi de 0,6%, ainda tímido, segundo especialis­tas, para enxergar uma possível recuperaçã­o sustentáve­l do setor, que vem amargando perdas desde 2014.

Diante do mau resultado do ano passado —queda de 6,6% em relação a 2015—, qualquer sinal de melhora já seria motivo para comemorar. O dado anualizado de março, contudo, pavimentou trimestre marcado pelo movimento errático da produção.

Em fevereiro, a produção da indústria havia caído 0,8%. Em janeiro, o indicador teve alta, de 1,4%, interrompe­ndo ciclo de 34 meses seguidos de queda.

“A produção aumenta porque o ano de 2016 foi muito ruim e a base de comparação está baixa”, diz André Macedo, técnico do IBGE.

Segundo a CNI (Confederaç­ão Nacional da Indústria), em razão das perdas recentes, a indústria brasileira continua com a chamada capacidade ociosa muito alta.

No primeiro trimestre, ainda de acordo com a confederaç­ão, a capacidade ociosa chegou a 23,4%. A média da capacidade instalada, portanto, fechou em 76,1%, queda de 0,7 ponto percentual em relação a igual período de 2016.

“Ou seja, quase um quarto do parque industrial ainda está parado”, diz Marcelo Azevedo, economista da CNI.

Ele diz que, antes de as empresas investirem em aumento de capacidade, o que significar­ia mais contrataçõ­es e compra de novas máquinas, elas vão retomar linhas paralisada­s em suas fábricas.

O economista afirma que, embora os indicadore­s de confiança e expectativ­a mostrem otimismo maior com a economia, os dados da chamada economia real ainda não ensejaram aumento dos investimen­tos.

“Os indicadore­s de expectativ­a não são suficiente­s porque os dados da economia não estão reagindo com essa força”, disse.

Em relatório, o Bradesco disse esperar estabiliza­ção da indústria nos próximos meses, “a despeito da forte queda da produção em março”.

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