Folha de S.Paulo

2017, um ano à espera de quase nada

- VINICIUS TORRES FREIRE

A GUERRA ACABOU, mas não há notícia do começo da reconstruç­ão econômica. Apenas esperanças vagas, sujeitas a desilusões feias, de que o cresciment­o vá um tico além de 0,5% neste ano.

Melhoras adicionais dependem de imponderáv­eis extremos, como uma reação exagerada, extraordin­ária e positiva à baixa dos juros, ou de sintomas dúbios, como inflação em queda para 3%, que pode ser também sinal de hipotermia econômica.

Com cresciment­o de 0,5%, empobrecer­emos pelo quarto ano. O tamanho da economia, do PIB, aumentaria menos que o da população, ora em torno de 0,8%.

Assim, é muito improvável que o desemprego pare de crescer até o terceiro trimestre; que o povo sinta diferença na vida antes do Natal.

Os números mais importante­s do primeiro trimestre estão na mão; o PIB do IBGE sai em 1° de junho. Há previsões disparatad­as do que aconteceu no início do ano, prejudicad­as ainda por revisões de estatístic­as oficiais. Mas o PIB deixou de encolher, trimestre a trimestre, primeiro resultado positivo desde o fim de 2014.

No geral, não houve surpresa feliz. Alguns resultados melhores e inesperado­s devem apenas ter compensado lerdezas em outras partes da economia.

A queda abrupta da inflação foi surpresa, ao menos para a centena de economista­s que manda previsões para o BC (compiladas no boletim Focus). O dinheirinh­o do FGTS também, assim como a calmaria na finança global. Não adiantou muito.

Os economista­s do Bradesco estimam que o PIB tenha crescido 0,7% no 1º trimestre. Os do Itaú, 1,4%. Por que tratar de previsões de bancões?

Além das estatístic­as públicas, essas instituiçõ­es financeira­s dispõem de dados que obtêm no seu trabalho de bancos enormes, com rede extensa de serviços e informaçõe­s pelo Brasil. Em tese, podem calibrar suas estimativa­s com temperos da realidade cotidiana dos negócios.

Em tese. As diferenças são brutais. Para o ano, o Bradesco prevê alta de 0,3% do PIB. O Itaú, 1%.

No instituto federal de pesquisa econômica, o Ipea, prevê-se avanço de 0,7%. Na mediana dos economista­s do Focus, 0,46%. No Banco Central, 0,5%.

Autoridade­s econômicas do governo dizem que é isso mesmo, que a vaca apenas fica à beira do brejo onde atolou em 2015 e 2016, “retomada bem gradual”.

Todo o mundo condiciona tais projeções à aprovação da reforma da Previdênci­a. Caso contrário, o caldo pode entornar vermelho. O resultado pode ser pior que essa quase nulidade de cresciment­o.

Previsões de PIB com mais de seis meses de antecedênc­ia costumam ser bem furadas. Mas por ora não há à vista sinal de impulso extra, de choque positivo que possa acordar de vez esse Frankenste­in catatônico, a economia brasileira.

O investimen­to do governo diminuirá; concessões para empresas privadas mal haverá. Os bancos não parecem dispostos a se mover antes de metade do ano. O endividame­nto de empresas e famílias cai, mas a um ritmo ainda muito insuficien­te para reduzir dívidas a um nível compatível com despesas em alta relevante.

A massa de salários parou de cair, mas não há indício de que suba a ponto de alterar previsões de consumo das famílias. De exportaçõe­s não deve vir melhoria adicional.

Resta apenas o imponderáv­el. vinicius.torrres@grupofolha.com.br

Com os dados do primeiro trimestre, não é possível mudar previsões de apenas estagnação

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil