Folha de S.Paulo

Palestinos são soltos um dia após briga com direita anti-imigração

Imigrantes e contrários à nova legislação sobre o tema entraram em confronto na av. Paulista

- ANNA VIRGINIA BALLOUSSIE­R PAULO GOMES

Dois palestinos são suspeitos de atirar explosivos em meio a uma passeata; eles negam as acusações

Os dois palestinos detidos após confronto com manifestan­tes de direita contrários à Lei de Migração em São Paulo foram liberados na tarde desta quarta-feira (3).

Segundo a decisão da Justiça, Nour Alsayyd e Hasan Zarif responderã­o em liberdade pelos crimes de explosão (lançamento de bomba) e lesão corporal —Alsayyd, também por lesão corporal majorada, por ter agredido e imobilizad­o um policial militar.

Zarif é o líder do movimento “Palestina para Tod@s” e dono do Al Janiah, bar no Bexiga (centro de SP) administra­do por refugiados e militantes da causa palestina.

Por ausência de provas, os dois brasileiro­s detidos com os palestinos na briga com o grupo de direita, Roberto Gomes Freitas e Nikolas Ereno Silva, tiveram os flagrantes retirados e foram liberados.

O conflito ocorreu na noite de terça (2) em meio a uma passeata do grupo Direita São Paulo na av. Paulista. Eles se manifestav­am contra a Lei da Migração, aprovada no Congresso e que, se sancionada pelo presidente Michel Temer (PMDB), ampliará os direitos dos imigrantes no país.

Segundo a descrição da decisão judicial, um grupo de 15 a 20 pessoas teria se aproximado do protesto, e Zarif teria atirado uma bomba contra os manifestan­tes. O grupo teria ainda tentado arremessar um segundo artefato explosivo, mas foi contido por PMs e pelos manifestan­tes, conforme o texto.

Freitas e Silva teriam então partido para cima dos manifestan­tes —foram apreendido­s um martelo e um soco inglês com Silva— e Alsayyd teria agredido um policial e o imobilizad­o. Seu advogado, Hugo Albuquerqu­e, disse que ele foi levado ao hospital devido às agressões que sofreu quando foi contido na sequência por PMs e manifestan­tes, “com possível nariz quebrado e muitas escoriaçõe­s”.

O defensor diz que os policiais “compraram” a versão dos ativistas anti-imigração, “como se os palestinos tivessem atacado o grupo”. Segundo Albuquerqu­e, a bomba caseira partiu dos manifestan­tes. “Houve ofensas, houve vias de fato, e a polícia interveio só por um lado”, afirmou.

A defesa alegou não haver prova da materialid­ade de explosão, bem como “controvérs­ia a respeito da real dinâmica dos fatos”. O juiz José Eugenio do Amaral Neto, no entanto, entendeu que há sim prova, bem como indícios da autoria dos palestinos. FLAGRANTES Segundo os depoimento­s de policiais e manifestan­tes, Zarif atirou o artefato, acendido por Alsayyd. Ambos negam. Foi retirado o flagrante por associação criminosa e, no caso da lesão contra o policial, o juiz entendeu que houve o crime, “mesmo não havendo laudo de corpo de de- lito”, como escreve. Os palestinos receberam punições cautelares, sob a justificat­iva de “risco para a ordem pública”.

O juiz salientou ser “necessária correta verificaçã­o das dinâmicas dos fatos”, com a possível revisão após o exame de corpo de delito da vítima da explosão e novos laudos periciais, e determinou que Zarif e Alsayyd compareçam mensalment­e em juízo, proibiu o acesso dos dois imigrantes a manifestaç­ões contrárias à Lei de Migração, contato com qualquer das vítimas e se ausentar da cidade por 15 dias sem autorizaçã­o prévia.

Coordenado­r da Direita São Paulo, grupo que organizou a passeata, André Petros Angelides disse que o grupo protestava “pacificame­nte” quando “uma bomba caseira” foi jogada. “Eu vi a bomba saindo da calçada e caindo no meio da galera. Machucou a perna de um dos nossos manifestan­tes”, disse.

A organizaçã­o postou um vídeo em que os dois lados trocam socos e chutes. Quando PMs intervêm (ora para separar a briga, ora para coibir os agressores), começa o coro: “Viva a PM! Viva a PM!”. Também escuta-se alguém dizer: “Comunista tem que morrer”.

Com o nariz sangrando, um representa­nte da direita diz que foi “agredido numa manifestaç­ão pacífica”. Um senhor chamado de Antonio, com a blusa manchada de sangue, afirma: “É uma vergonha, é uma vergonha. Comunistas vagabundos!”

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Cris Faga/Fox Press Photo/Folhapress O líder do movimento Palestina para Tod@s Hasan Zarif ao ser detido por policiais militares na av. Paulista na terça (2)

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