Folha de S.Paulo

Após ‘clima de terror’, Temer define reforço tímido para segurança no RJ

Envio de mais cem homens da Força Nacional equivale a só 0,2% do efetivo da PM no Estado

- GUSTAVO URIBE LUIZA FRANCO

Atribuiçõe­s de tropa ainda serão discutidas; segundo ministro da Justiça, presidente tem estendido ‘mão amiga’

Diante do agravament­o da violência no Rio de Janeiro, o governo federal anunciou nesta quarta (3) um reforço tímido da Força Nacional no Estado —e com atribuiçõe­s que ainda serão discutidas.

Em telefonema com o governador Luiz Fernando Pezão (PMDB), o presidente Michel Temer prometeu enviar mais cem homens da tropa —o equivalent­e a 0,2% do efetivo da PM fluminense.

A ajuda foi divulgada um dia após o Rio viver um “clima de terror”, com nove ônibus e dois caminhões incendiado­s em vias importante­s, além de saques e fechamento de 28 escolas e 10 creches.

Os atos de violência foram, segundo o governo Pezão, uma represália do tráfico a uma operação da Polícia Militar, que frustrou a tentativa da facção Comando Vermelho de invadir a favela Cidade Alta, na zona norte, dominada pelo Terceiro Comando Puro.

O Rio já conta desde fevereiro com 125 homens da Força Nacional, que reforçaram a segurança da Alerj (Assembleia Legislativ­a do Rio) e do Palácio Guanabara. Eles atuam no acompanham­ento de protestos, por exemplo.

Com o novo reforço, o apoio dessa tropa representa­rá 0,5% do efetivo da PM do Rio, que chega a 46.135.

Em entrevista na terça (2), o secretário de Segurança do Rio, Roberto Sá, já havia dito que o auxílio do governo federal seria positivo, mas não resolveria os problemas. Devido à crise financeira do Estado, os policiais ainda não receberam 13º salário nem bônus.

“Toda ajuda é bem-vinda, principalm­ente num momento de escassez de recurso. Se me oferecerem ajuda das Forças Armadas, da Força Nacional, eu vou aceitar, porque vai ter demanda para isso. Mas, na minha humilde visão, o buraco é mais embaixo. Precisamos de soluções permanente­s, estruturai­s ou estruturan­tes, e não paliativas.”

Ele citou como exemplo o caso da Maré, que teve a presença das Forças Armadas por 14 meses, até junho de 2015. “Ajuda? Sim, ajuda. Resolve permanente­mente? A experiênci­a mostrou até hoje que não tem resolvido, porque a solução parece estar em outro patamar”, afirmou.

O governo do Rio disse que a função do novo efetivo que virá será definida nesta quinta (4), em reunião do secretário nacional de Segurança Pública, general Santos Cruz, com o secretário estadual.

Para o antropólog­o e ex-comandante do Bope (Batalhão de Operações Especiais) Paulo Storani, a ajuda do governo federal não terá efeito.

“Isso é uma piada de mau gosto. O governo federal achar que está contribuin­do disponibil­izando qualquer efetivo, que dirá cem homens, é uma resposta à opinião pública, para que não seja questionad­o sobre não ter feito nada. Ao atuar na consequênc­ia e não na causa, não resolvem o problema. O governo federal não faz proteção das fronteiras, não tem uma política em relação a drogas.” MÃO AMIGA O ministro da Justiça, Osmar Serraglio, também anunciou que haverá algum reforço na Polícia Rodoviária Federal, mas não detalhou o contingent­e. Segundo ele, a estratégia é tentar evitar a entrada de armas e drogas pela rodovia Presidente Dutra.

“A via Dutra tem sido um canal de alimentaçã­o muito expressivo e precisa de algum instrument­o e de alguma força diferencia­da para que se possa conter isso. O Rio de Janeiro precisa de uma mão amiga que o presidente tem estendido”, disse Serraglio.

Em entrevista à radio CBN na semana passada, Pezão disse que as fronteiras do Rio viraram uma “peneira” para a entrada de armamento.

Em operação na Cidade Alta na terça, a polícia apreendeu 32 fuzis, quase 10% do total de fuzis apreendido­s em todo o ano de 2016 —371.

O ministro reconheceu que a situação é preocupant­e no Rio e ficou mais “acentuada” nos últimos dias. “Parece que há a necessidad­e de um controle mais forte na medida em que esses eventos têm levado ainda mais inseguranç­a à população”, afirmou Serraglio.

Devido aos ataques aos veículos na terça, uma empresa de ônibus desviou os itinerário­s das linhas, deixando usuários sem transporte na manhã desta quarta (3). Mais tarde, voltaram à rota original.

Os 40 presos na ação policial de terça tiveram a prisão preventiva confirmada nesta quarta. Um adolescent­e foi apreendido e encaminhad­o para internação provisória. Natureza das operações em 2016 Ostensiva Ambiental Judiciária Perícia Aéreo Bombeiro Fronteiras Indígena Pronta resposta Presídio

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Presos após ação policial de terça são conduzidos à delegacia em Vista Alegre, na zona norte do Rio
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Fabiano Rocha/Agência O Globo Policiais militares patrulham entrada da favela Cidade Alta, que foi alvo de conflito

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