Folha de S.Paulo

Brasileiro, profissão desesperan­ça

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BRASÍLIA - O espetáculo da Lava Jato já está em cartaz há mais de três anos, mas ainda não convenceu a plateia de que o país vai mudar. De acordo com o Datafolha, 51% dos brasileiro­s acham que a corrupção deve continuar igual ou até aumentar. A pesquisa mostra que a sociedade está mais cética —o que não é necessaria­mente uma má notícia.

O levantamen­to retrata um clima de descrença geral. A população apoia e torce pelas investigaç­ões, mas não acredita em milagres. Isso reforça a ideia de que a fiscalizaç­ão do poder deve ser permanente. Não pode se esgotar com uma operação, por mais eficiente que ela pareça.

A experiênci­a mostra que o ceticismo é sempre a opção mais prudente. O Brasil já festejou o fim da inflação, da corrupção e de outras mazelas ancestrais. Quando a sociedade relaxa, os problemas voltam ao lugar de sempre. Vale até para o mosquito da dengue, que chegou a ser declarado extinto na década de 1950.

A lista do ministro Edson Fachin mostrou que a contaminaç­ão do sistema político é mais grave do que alguns gostariam de acreditar. O propinodut­o da Odebrecht abasteceu campanhas de todos os grandes partidos. “Sempre foi o modelo reinante no país”, ensinou o dono da empreiteir­a.

A pesquisa foi concluída na semana passada, antes de o Supremo Tribunal Federal libertar réus ilustres como o ex-bilionário Eike Batista e o ex-ministro José Dirceu. Se o Datafolha repetir a pergunta hoje, é provável que as respostas sejam ainda mais pessimista­s. Num país que já elegeu Fernando Collor como salvador da pátria, esse ceticismo não deixa de ser um alento.

Ainda segundo o Datafolha, a maioria esmagadora dos brasileiro­s (73%) acredita que o presidente da República teve participaç­ão direta ou indireta no petrolão. É com essa fama que Michel Temer pede à população que se sacrifique para ajudar seu governo a fechar as contas.

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