Folha de S.Paulo

OAS também tinha ‘setor de propina’, diz ex-executivo

Revelação foi feita por Agenor Medeiros em depoimento a juiz Sergio Moro

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Estrutura seria parecida com a mantida pela Odebrecht; empreiteir­a negocia um acordo de delação premiada

Em depoimento ao juiz Sergio Moro, nesta quinta-feira (4), o ex-executivo da OAS Agenor Franklin Medeiros, que é réu em uma ação penal contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, descreveu pagamentos de propina da empreiteir­a a três partidos políticos e a existência de uma área de “vantagens indevidas” no grupo.

É a segunda empreiteir­a que revela a existência do que vem sendo chamado de um “departamen­to da propina”.

A Odebrecht admitiu, em sua delação premiada, que o pagamento de vantagens indevidas ocorria no Setor de Operações Estruturad­as.

Segundo Medeiros, a OAS tinha uma “área que trabalha com vantagens indevidas”, chamada de “controlado­ria”.

“Doações a partidos, até de forma oficial, saem do presidente [da empresa], vai para o diretor financeiro e vai para o gerente dessa área.”

Ele exemplific­ou com pagamentos a fornecedor­es de partidos, como gráficas.

Também citou como um dos responsáve­is pela divisão Mateus Coutinho de Sá, que foi alvo da Operação Lava Jato, mas acabou absolvido em julgamento na segunda instância federal.

A empreiteir­a OAS está em meio a um processo de negociação de delação premiada com a Lava Jato, que havia sido interrompi­do no ano passado e agora foi retomado.

Medeiros depôs no processo em que Lula é acusado de ter recebido um tríplex em Guarujá (SP) da OAS, o que o ex-presidente nega.

Antes de começar o depoimento, a defesa de Lula questionou-o a respeito da negociação da delação premiada. Os procurador­es confirmara­m a negociação, mas disseram que o compromiss­o ainda não foi firmado.

Em seu depoimento, Medeiros disse que está disposto a colaborar com a Justiça. Ele afirmou que seus advogados estão conversand­o com os procurador­es, mas não há ainda uma proposta fechada. “Não tenho benefício definido”, disse.

O ex-executivo citou um percentual de 2% sobre os valores de contratos para “atender compromiss­os políticos” e falou em pagamentos na obra da refinaria de Abreu e Lima, em Pernambuco.

Segundo ele, foram pagos pela OAS devido a contratos na refinaria R$ 16 milhões para o PT, R$ 13,5 milhões para o PP e R$ 6,5 milhões para o PSB na campanha de 2010. LULA O ex-executivo disse que o empreiteir­o Léo Pinheiro, da OAS, contou que estava tendo “prejuízos” com despesas em benefício de Lula, como um sítio em Atibaia (SP) frequentad­o por ele e o tríplex.

Medeiros disse que a relação do empreiteir­o com o petista era próxima e que a empreiteir­a pressionou o governo federal e o PT para participar de projetos da Petrobras. A defesa de Lula nega e afirma que há um movimento “para apressar um calendário de delações às vésperas do depoimento do ex-presidente”, na quarta-feira (10).

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Reprodução Agenor Franklin Medeiros, ex-diretor-presidente da área internacio­nal da OAS, durante seu depoimento a Sergio Moro

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