Chegada de José Dirceu é marcada por tumulto em Brasília
Manifestantes cercaram carro do ex-ministro na entrada do prédio em que ele residirá após ter sido solto pelo Supremo
Policiais precisaram usar spray de pimenta para conter protesto; petista viajou de carro desde Curitiba (PR)
A chegada do ex-ministro José Dirceu em Brasília foi marcada por tumulto na noite desta quinta-feira (4). Manifestantes invadiram a garagem do edifício em que Dirceu vai residir atrás do carro que o transportava vindo de São Paulo.
Aos gritos de “ladrão” e “paga o que deve”, eles perseguiram o veículo por cerca de dez minutos, até que Dirceu conseguisse desembarcar com a ajuda de policiais militares, que usaram spray de pimenta para dispersar os manifestantes. O spray atingiu Dirceu, que subiu de elevador lacrimejando.
Os protestos contra a decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) de libertar o exministro contaram com cerca de 50 pessoas ligadas ao grupo Nas Ruas e moradores. Eles carregavam cartazes com críticas ao STF e elogios ao juiz Sergio Moro, da Lava Jato.
Dirceu chegou por volta das 21h20 em sua nova residência, no bairro Sudoeste, próximo à região central.
“O protesto é mais contra o STF do que contra o Dirceu em si”, afirmou Carla Zambelli, líder do Nas Ruas.
Foi erguido um boneco inflável do ministro do STF Ricardo Lewandowski com uma estrela petista. Nas janelas, alguns dos novos vizinhos do petista batiam panelas. “Acho que a convivência vai ser difícil”, disse o aposentado Luiz Henrique Araujo, 51.
Três viaturas acompanhavam a manifestação.
Usando tornozeleira, o exministro deixou o Complexo Médico de Pinhais, no Paraná, na tarde desta quarta-feira (3).
Em sua primeira noite em liberdade, ele quase não dormiu. Preferiu passar a madrugada conversando com dois de seus filhos, Zeca e Joana, no apartamento dela, em São Paulo. Descansou apenas por duas horas, das 5h às 7h, quando acordou para tomar café com parentes e amigos.
Bem-humorado, disse que sua liberdade é provisória, mas que vai aproveitar para “comer o que quiser”.
Sentado à mesa, esbaldouse com frutas, café, pão, queijo e presunto antes de entrar no carro com Sandrão, seu motorista na viagem de cerca de mil quilômetros até Brasília, iniciada no fim da manhã desta quinta.
A mulher de Dirceu, Simone, e sua filha mais nova, Antonia, de 6 anos, vivem na capital federal.
Leitor e escritor contumaz na cadeia, o ex-ministro do governo Lula preferiu falar —e muito— desde quando deixou a cela de 12 metros quadrados em que passou o último ano e nove meses. Recebeu ligações de dezenas de dirigentes e parlamentares petistas, disse que quer aproveitar o tempo com a família e amigos e que vai participar de “tudo o que for possível”.
Quem conversou com ele até agora disse que seu mantra é que o PT precisa “se preparar para uma situação de conflito e guerra contra a direita” e construir uma “nova estratégia” para enfrentar o cenário político, marcado, se- gundo ele, pela polarização.
Insiste na “guinada à esquerda” que precisa ser dada pelo partido e diz que é preciso construir uma nova política de alianças para voltar a governar o país.
Dirceu responde a três ações na Operação Lava Jato e já foi condenado em duas delas.
(ANGELA BOLDRINI, BELA MEGALE E MARINA DIAS)