Folha de S.Paulo

Regra que agiliza ação contra governador­es vale para todos

STF decide que chefes dos Estados podem virar réus sem aval de Assembleia­s

- LETÍCIA CASADO

Governador do AM, José Melo (Pros), é cassado pelo TSE, que determina a realização de nova eleição em 40 dias

O STF (Supremo Tribunal Federal) decidiu nesta quinta (4) que os governador­es de Piauí, Acre e Mato Grosso podem virar réus em ação penal sem precisar do aval prévio dos deputados estaduais.

Os ministros da Corte definiram ainda que a regra poderá ser aplicada a todos os governador­es do país, o que terá efeitos sobre casos da Operação Lava Jato. A delação da Odebrecht gerou pedidos de abertura de inquérito contra três governador­es, incluindo o do Acre, Tião Viana (PT). Outros nove casos foram enviados ao Superior Tribunal de Justiça (STJ).

Levantamen­to do STJ mostra que há 13 denúncias envolvendo 8 governador­es que não estão em segredo de Justiça, mas que estão paradas à espera de uma decisão das assembleia­s legislativ­as: Paulo Hartung (ES), Simão Jatene (PA), Confúcio Moura (RO), Marcelo Miranda (TO), Wellington Dias (PI), Waldez Góes (AP), Marconi Perillo (GO) e Fernando Pimentel.

Com a decisão do Supremo, esses casos já poderão ser analisados pelos ministros, que podem decidir se abrem ou não o processo.

Os três casos analisados nesta quinta-feira chegaram ao Supremo em 2012. As ações questionam dispositiv­os das Constituiç­ões dos Estados que davam aos deputados estaduais a prerrogati­va de autorizar ou não a abertura de processo, o que poderia implicar em jogo de força política, uma vez que o governador poderia ter influência sobre os deputados.

O entendimen­to foi o mesmo definido nesta quarta (3), no caso do governador de Minas, Fernando Pimentel (PT).

A corte definiu ainda que, mesmo se o governador virar réu, ele não será afastado automatica­mente do cargo. Essa decisão será posterior à abertura da ação penal.

Na avaliação de uma autoridade ligada à Lava Jato, a PGR (Procurador­ia-Geral da República) e o STJ saem fortalecid­os com a decisão, uma vez que a investigaç­ão poderá tramitar sem a ameaça de acabar na hora da denúncia.

No caso de Pimentel, a PGR investigou e denunciou, mas o processo está parado há meses por causa dessa indefiniçã­o sobre o papel dos deputados estaduais. A corte deve editar uma súmula vinculante para que a decisão seja automática para todo o país. AMAZONAS Por 5 votos a 2, o Tribunal Superior Eleitoral ratificou a cassação do governador do Amazonas, José Melo (Pros), acusado de compra de votos na eleição de 2014, e determinou a realização de um novo pleito em até 40 dias.

Melo e o vice-governador Henrique Oliveira (Solidaried­ade) serão afastado. O governador pode recorrer ao TSE e ao Supremo, mas continuará afastado do cargo.

O presidente da Assembleia, David Almeida (PSD), aliado de Melo, assumirá o governo interiname­nte.

O amazonense em nota disse ter recebido a decisão “com grande surpresa”. “Não pratiquei nenhum ato reprovável. Respeito a decisão e vou aguardar o acórdão.”

FABIANO MAISONNAVE

Contra “agentes públicos e privados que ignoram a ética e abrem mão dos princípios morais”, a CNBB (Conferênci­a Nacional dos Bispos do Brasil) divulgou nesta quinta-feira (4) o texto “O Grave Momento Nacional”.

Trata-se de um documento em que a principal entidade católica do país ataca “a relação promíscua entre interesses públicos e privados, razão primeira dos escândalos de corrupção”.

“É preciso construir uma democracia verdadeira­mente participat­iva. Dessa forma se poderá superar o fisiologis­mo político que leva a barganhas sem escrúpulos”, diz a nota da entidade católica.

O documento foi lido por dom Leonardo Steiner, secretário-geral da CNBB, no último dos dez dias da 55ª Assembleia-Geral da entidade.

Nele não há citações específica­s aos desdobrame­ntos da Lava Jato, mas críticas ao quadro político nacional encharcam o conteúdo.

Em nota anterior, os bispos já haviam alvejado a reforma previdenci­ária proposta pelo presidente Michel Temer.

“Os direitos sociais do Brasil foram conquistad­os com intensa participaç­ão democrátic­a; qualquer ameaça a eles merece imediato repúdio”, dizia o texto.

A nova nota oficial pede uma “profunda reforma do sistema político” brasileiro e chama atenção para a necessidad­e de que se tenha cautela diante de “salvadores da pátria”.

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Zanone Fraissat/Folhapress O presidente da CNBB, dom Sérgio Rocha, em Aparecida

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