Folha de S.Paulo

Especialis­tas divergem em debate sobre foro privilegia­do

Em evento na Folha, ex-chefe da AGU defende modelo atual, enquanto promotor considera injustific­ado benefício para políticos

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Um debate promovido pela Folha nesta quarta-feira (3), em São Paulo, teve posições totalmente opostas sobre a existência do foro privilegia­do, o benefício que permite que políticos e ocupantes de determinad­os cargos públicos não sejam julgados na primeira instância.

O modelo vem sendo alvo de críticas na Operação Lava Jato e de ministros do Supremo Tribunal Federal.

Um dos debatedore­s, Fábio Medina Osório, especialis­ta em direito constituci­onal e em direito administra­tivo e ex-ministro da Advoca- cia-Geral da União, criticou a ideia de que o foro é o responsáve­l pela impunidade no país. Já Roberto Livianu, promotor de Justiça e presidente do Instituto Não Aceito Corrupção, defendeu uma ampla reforma no modelo atual e sustentou que a existência do foro persiste por uma “cultura de privilégio” herdada dos tempos da monarquia.

Ele citou democracia­s onde não há o instituto do foro, como Suíça, Espanha e Estados Unidos, e disse acreditar que o Brasil poderia se adaptar a essa realidade.

“Se o indivíduo é julgado [direto] pelo Supremo, ele não tem direito ao duplo grau de jurisdição: ele não tem a oportunida­de de pedir uma nova decisão.”

Livianu e Osório demonstrar­am grande divergênci­a em relação ao tema ao longo do encontro. Enquanto o promotor citou a celeridade de punições na primeira instância na Operação Lava Jato e afirmou que a sociedade “clama” por mudanças, o ex-advogado-geral afirmou que o tema vem sendo usado para tirar o foco de questões que afetam mais o Judiciário, como a falta de gestão e a crise no sistema prisional.

Marcos da Costa, presidente da seção paulista da OAB (Ordem dos Advogados do “gigantesco”, seria melhor deixar uma definição sobre o assunto para a próxima legislatur­a, que terá congressis­tas eleitos em outubro de 2018. Ele vê o atual Congresso marcado pela crise política dos últimos anos.

“Teremos oportunida­de de discutir com os candidatos [no próximo ano] as posições em relação a cada um desses temas”, disse.

Para o presidente da OABSP, o atual modelo de foro faz com que os tribunais superiores assumam atribuiçõe­s que não são as suas e, com a carga de processos, deixem de analisar com rapidez questões importante­s para o país.

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Pedro Ladeira/Folhapress Os ministros Gilmar Mendes (de costas) e Celso de Mello durante sessão desta quinta no STF

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