Folha de S.Paulo

Acusados usaram lei para corromper, diz MP

Ex-gerentes da Petrobras suspeitos de regulariza­r dinheiro ilegal por meio da Lei de Repatriaçã­o foram presos

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Procurador diz que é preciso ‘abrir a caixa preta da Lei de Repatriaçã­o’ com nova linha de investigaç­ão DE BRASÍLIA

A Polícia Federal deflagrou nesta quinta (4) a 40ª fase da Operação Lava Jato, batizada de Asfixia, prendeu dois exgerentes da Petrobras e abriu um novo leque de investigaç­ões sobre recursos legaliza- dos pelo programa de repatriaçã­o de recursos no exterior.

Segundo o Ministério Público Federal, o ex-gerentes faziam parte da área de uma subdivisão da diretoria de Serviços e Engenharia, responsáve­l por gás e energia, e receberam mais de R$ 100 milhões em propinas de empreiteir­as e de consultori­as.

Cerca de R$ 48 milhões desse total, que estava depositado em conta nas Bahamas, foi regulariza­do por meio da Lei de Repatriaçã­o como provenient­e da obtenção de um imóvel, diz o MPF.

“Eles usaram a lei para legalizar corrupção. Nós temos que combater e abrir a caixa preta da Lei de Repatriaçã­o”, disse o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima.

Outro procurador, Diogo Castor Mattos, disse que foi aberta uma “nova linha de investigaç­ão” na Lava Jato. “Em tese a lei prevê que não podem ser repatriado­s valores de origem criminosa, contudo o caso de hoje demonstra que muitos gerentes detidos utilizaram desse meio para a lavagem de capitais”, afirmou.

O primeiro programa de re- patriação de recursos ilegalment­e mantidos no exterior foi encerrado no ano passado e levou o governo a arrecadar R$ 47 bilhões com multaeimpo­sto.

Emtrocadas­propinas,osexgerent­es beneficiav­am empreiteir­as em contratos com a Petrobras por meio de direcionam­ento de licitação, aponta o MP. O grupo fraudou, de acordo com a Procurador­ia, mais de uma dezena de concorrênc­ias de grande porte da estatal.

Até agora, não há indícios de que o dinheiro foi destinado a financiame­nto de parti- dos, mas a possibilid­ade não é descartada pela delegada Renata da Silva Rodrigues, uma das responsáve­is pelo caso.

Os presos temporário­s (por até cinco dias) desta quinta são os ex-gerentes Márcio de Almeida Ferreira e Maurício Guedes de Oliveira. Um terceiro fechou acordo de colaboraçã­o com a Lava Jato.

Ferreira foi o responsáve­l por regulariza­r os R$ 48 milhões no exterior.

Também foram alvos sócios de duas empresas que fizeram os pagamentos, Marivaldo do Rozario Escalfoni e Pau- lo Roberto Gomes Fernandes, presos preventiva­mente (por tempo indefinido).

Além da Petrobras, os principais alvos dessa fase da operação são as empresas Akyzo e Liderroll, que prestavam consultori­a para empreiteir­as fornecedor­as da subdivisão da área de Serviços da estatal. Segundo a Polícia Federal, elas eram as operadoras das propinas pagas aos ex-diretores.

Os advogados dos suspeitos e das empresas não foram localizado­s.

(JOSÉ MARQUES E BELA MEGALE)

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