Folha de S.Paulo

Identidade deve guiar franceses nas urnas

Debate entre Macron e Le Pen para definir essência da nacionalid­ade evoca de Joana D’Arc à guerra da Argélia

- DIOGO BERCITO

Eleitores hesitam ao definir questão citada com frequência pelos políticos; passado colonialis­ta ainda pesa

terminada por outro fato histórico: a Guerra da Argélia (1954-1962). Segundo JeanYves Camus, especialis­ta no estudo da direita nacionalis­ta, o conflito foi fundamenta­l na construção da Frente Nacional de Marine Le Pen.

A Argélia foi por décadas um território francês. A violenta disputa que culminou na sua independên­cia criou fissuras ainda hoje visíveis entre franceses cristãos e muçulmanos, e entre nativos franceses e imigrantes.

“Há um grande ressentime­nto em relação aos muçulmanos. Para parte da população, vendemos nossos valores como superiores aos deles, mas fomos rejeitados pela independên­cia”, diz.

Com o fim da guerra, em 1962, um milhão de colonos franceses —os chamados “pieds noires”, pés negros— tiveram de deixar o norte da África em poucos dias e se instalar no sul da França.

Esse deslocamen­to ajuda a explicar a força da Frente Nacional nessa região, hoje um dos bastiões de Le Pen. Antigos colonos e seus descendent­es, que ouviram histórias da guerra, ainda guardam rancor em relação aos migrantes africanos.

São histórias que voltam à tona quando a reportagem ouve eleitores franceses.

Safa Gurdan, 22, é filha de argelinos e votará contra Le Pen. “Meus pais tinham o direito de estar aqui. Somos franceses”, diz. “Não quero impedir outros migrantes de virem à França.”

“Se nascemos aqui, não importa. Somos franceses mesmo se não nos parecemos com a imagem tradiciona­l”, diz Lucille Cosgrave, 26, filha de irlandeses.

Mas, como outros entrevista­dos, ela titubeia ao definir o que é o tal “francês tradiciona­l”. E pondera: “Joana d’Arc é um símbolo francês porque lutou pela França inteira, e não só por um grupo”.

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