Folha de S.Paulo

A crise de identidade está

-

Franceses chegam às urnas neste domingo (7) como quem vai ao divã: em crise de identidade. Em tempos de globalizaç­ãoemigraçã­o,aescolha de seu próximo presidente está ligada ao significad­o de sua nacionalid­ade.

O candidato centrista Emmanuel Macron, 39, e a ultranacio­nalista Marine Le Pen, 48, têm visões opostas sobre o que é ser francês. Disputam, por exemplo, a posição do país no continente e se deveria seguir na União Europeia.

Macron quer que o francês tenha euros na carteira, mas Le Pen menciona a volta do franco. O país dele é multicultu­ral e alinhado aos EUA, enquanto o dela acena à população nativa e à Rússia.

A identidade é uma definição difícil. “Ser francês é gostar de baguete”, ironiza uma eleitora ouvida pela Folha na praça da República, Paris.

Mas, dentro desse conceito amplo, ficam por resolver questões urgentes como o quão franceses são os migrantes e seus filhos, rejeitados por parte do país.

Uma pesquisa publicada nesta quinta (4) prevê a vitória de Macron com 61% dos votos contra os 39% de Le Pen, indicando a prevalênci­a da visão mais inclusiva —a direitista fez campanha contra migrantes e muçulmanos.

A sondagem foi realizada pelo instituto francês Ifop-Fiducial com 1.500 pessoas de 1º a 4 de maio. A margem de erro é de 2,4 pontos percentuai­s em ambas as direções. SANTA GUERREIRA evidente quando Macron e Le Pen tentam se apropriar politicame­nte da figura de Joana d’Arc, a santa guerreira queimada viva em 1431.

Ela é um dos símbolos da sigla nacionalis­ta Frente Nacional, fundada por Jean-Marie Le Pen, pai da candidata.

“Joana d’Arc viveu em um período em que a França estava muito fraca”, diz JeanRéne Coueille, um líder da Frente Nacional na região de Loire, no centro do país. É um personagem essencial quando o país precisa de símbolos para suas reconquist­as —seja territoria­is ou de prerrogati­vas do governo. “É central á mentalidad­e francesa.”

Mas Macron tem tentado reverter o cenário. Ao lançar sua candidatur­a, no início de 2016, ele discursou diante da estátua de Joana d’Arc, comparando suas trajetória­s ao dizer que ambos tentaram romper o sistema.

Joana d’Arc participou da Guerra dos Cem Anos contra a Inglaterra e, dizendo ser instruída por visões, recuperou a cidade de Orléans.

Políticos se apropriam há séculos de sua imagem, afirma Olivier Bouzy, diretor do Centro Joana d’Arc em Orléans, ao sul de Paris.

Entre os séculos 16 e 18, explica, ela serviu como uma evidência de que Deus havia privilegia­do o reino francês.

Após a derrota na guerra com a Prússia no século 19, ela passou a ser associada às províncias francesas perdidas —foi quando foi tomada por partidos nacionalis­tas.

Essa carga política foi eletrifica­da por Jean-Marie Le Pen ao fundar a Frente Nacional nos anos 1970, saudoso de um passado imperial.

“A história terá um papel importante nessas eleições”, afirma Bouzy. “A identidade é essencial. Vamos escolher entre o passado e o futuro.” ARGÉLIA

 ?? Sipa-8.mai.16/Associated Press ?? Macron assiste a homenagem a Joana D’Arc em Orléans
Sipa-8.mai.16/Associated Press Macron assiste a homenagem a Joana D’Arc em Orléans

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil