Folha de S.Paulo

Brasil, fechado para obras

- VINICIUS TORRES FREIRE

OS ECONOMISTA­S de Michel Temer desandaram nesta quinta (4) a dizer que o governo não tem dinheiro para investimen­to “em obras”. Bidu.

Que a solução é conceder obras e serviços a empresas privadas. Que, com o ajuste fiscal, poderá haver investimen­to público no futuro. Hum. Problemas. 1) As concessões de obras e serviços para empresas privadas andam devagar quase parando;

2) Não está à vista volume de concessões suficiente nem para substituir o investimen­to público que desaparece;

3) Dado o “teto” de gastos do governo federal, não é razoável prever aumento de investimen­to federal por pelo menos uma década, a não ser que se admitam hipóteses heroicas ou revolucion­árias para os usos do Orçamento federal.

Quanto à lerdeza de concessões, é justo reconhecer, primeiro, que as leis e normas desses programas e os métodos dos leilões se transforma­ram em uma barafunda revoltante no governo anterior. Segundo, é preciso arrumar um monte de concessões feitas de modo inepto. Terceiro, com as taxas de juros no nível em que estavam, os serviços e obras leiloados custariam caro para o público —meio inviável tocar a coisa neste início de ano.

Foram leiloados aeroportos, linhas de transmissã­o de energia e uns pedacinhos de portos. Além de não fazer coceira no colapso do investimen­to público, essas obras são para o ano que vem, no grosso.

Nesta semana, se aprovou lei que trata de renovações e devolução de concessões. Mais projetos entraram na lista do Programa de Parcerias de Investimen­tos. Houve um sopro de “agora vai” para leilões prometidos em 2016 e para os quais falta dar início mesmo ao processo burocrátic­o do leilão. Com sorte, as obras ficam para fins do ano que vem.

O investimen­to do governo federal “em obras” (as incluídas no PAC) caiu uns 25% em 2015 e outros 18% no ano passado. Neste 2017, cai ao ritmo anual de 31%.

Dados o “teto” de gastos, o aumento das despesas da Previdênci­a e o piso mínimo de despesas com educação, saúde e funcionali­smo, não há como aumentar o investimen­to público em 2018. Apenas com muita sorte ou jeito o investimen­to não cairá de novo.

Sim, será um avanço que o investimen­to concedido a empresas privadas aumente em 2018. Seria um tapa para cima no PIB. Mas não parece que vá compensar o buraco deixado pelo Estado, feita uma conta de guardanapo com os valores de investimen­tos anunciados naquelas cerimônias oficiais de bilhões e de nomes marqueteir­os para os programas, “Brasil Grandão”.

O problema vai além. Há obras de infraestru­tura que a iniciativa privada não quer levar, porque não dão retorno privado, ao menos de imediato, ou por outro motivo qualquer: são obras para lugares e pessoas pobres, em geral. Nesses casos, o governo faz a obra ou concede subsídio ao empresário. Hum: o governo não tem dinheiro para subsídios.

O que fazer para arrumar dinheiro para o investimen­to, dado o “teto”, no longo prazo? Não reajustar o salário de servidores? Privatizar serviços públicos? Dar um jeito de repassar dinheiro federal para Estados tocarem obras (isto é, quando houver receita extra. Haverá deficit até 2021)?

Com ou sem “teto”, para este ou o próximo governo, será um nó difícil de desatar.

Governo fala muito em concessão, que anda devagar e não compensa queda de investimen­to público

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