O projeto nasceu em 2015, numa oficina de hardware e softwares livres na periferia do Distrito Federal.
Desde abril deste ano, moradores de Rio Branco, no Acre, estão colocando o Aedes aegypti no mapa.
Literalmente: usando armadilhas, eles captam ovos do mosquito transmissor da dengue, da zika e da chikungunya, e, por meio de um aplicativo, contabilizam e mapeiam as ocorrências.
A iniciativa é fruto de parceria entre desenvolvedore da ONG WWF-Brasil e da secretaria de saúde da cidade.
Em palestras e visitas a comunidades, técnicos da ONG e agentes de saúde ensinam professores e moradores a baixar o aplicativo Aetrapp no celular. Também ensinam a montar armadilhas com fundos de garrafas PET (veja infográfico). Nelas, uma paleta de papel “segura” os ovos e depois é retirada e fotografada com auxílio do aplicativo.
A partir daí, um algoritmo conta o número de ovos depositados e alimenta um mapa (aetrapp.org/mapa).
O resultado é imediato: divididas por nível de gravidade, as infestações são georreferenciadas, permitindo que o governo direcione os agentes de saúde e que a população saiba em que bairros, ruas e quarteirões voa o perigo.
“Virou assunto. Os alunos estão atentos à água parada ou qualquer coisa fora do padrão”, conta Marilena Vieira da Silva, 47, professora de ciência na escola estadual Raimundo Gomes de Oliveira.
Ela reuniu 30 estudantes que tinham celulares compatíveis e os instruiu sobre as armadilhas; 22 levaram o projeto adiante. Ela própria sofreu com o mosquito. “Peguei zika e até hoje tenho dores.”
Em 2016, a dengue somou 1,4 milhões de casos no país— queda de 5,5% frente a 2015. Foram 251 mil ocorrências de chikungunya, quase dez vezes a quantidade do ano anterior, e 208,8 mil registros de zika.
Embora o Norte tenha registrado o menor número de casos (37.943) de dengue do país, metade de seus municípios estão em situação de alerta ou de risco, e Rio Branco, com notório histórico de infestação, está na lista.
Na escola, só uma arapuca apontou ovos. Em outros lugares, porém, registraram até 90. “Deixa de ser aquela coisa de ‘vire seus vasos’. A pessoa passa a acionar o governo ou fazer faxina”, diz Marcelo Oliveira, 44, especialista em conservação do Programa Amazônia do WWF-Brasil.
A proposta esbarra na falta de aptidão para a tecnologia. Celulares sem uma boa câmera também podem fazer com que o aplicativo considere a amostra como inválida.
A iniciativa, por enquanto, está restrita a 200 moradores da capital do Acre e que são usuários de Android. Os testes devem durar oito semanas. A ideia é superar os obstáculos detectados e expandir para outras localidades. SEM MILAGRE