Folha de S.Paulo

Obras reconstroe­m Dalva de Oliveira, que faria 100 anos

Documentár­io e biografia sobre ‘rainha do rádio’ relegam escândalos

- AMANDA NOGUEIRA

Tinha uma imagem de mulher submissa, mas descobri que ela quebrou diversos tabus, afirma neto e realizador do filme

Assunto recorrente no noticiário dos anos 1950, a história de Dalva de Oliveira, que faria cem anos nesta sexta (5), foi tão dramática quanto suas interpreta­ções passionais que lhe concederam o título de rainha do rádio.

Como resposta às tentativas de conduzir sua vida e carreira à sua maneira, a cantora foi alvo de retaliaçõe­s e difamações, que tiveram graves consequênc­ias, como a perda da guarda dos filhos.

O caso mais famoso é a briga com o ex-marido Herivelto Martins, que gabava-se de ter lapidado o diamante bruto que seria a cantora antes do Trio de Ouro, grupo que formaram com Nilo Chagas.

Ele teria se aproveitad­o de sua amizade com o jornalista David Nasser para publicar cerca de 22 artigos na coluna “Por que Abandonei Dalva de Oliveira”, no extinto “Diário da Noite”, na qual acusava a cantora de tê-lo traído.

Em 2010, o filho do casal, Pery Ribeiro, e sua mulher, Ana Duarte, escreveram um livro de memórias, “Minhas Estrelas”, em que ele narra a relação dos pais a partir de suas lembranças, relativiza­ndo com certa imparciali­dade o dualismo dos personagen­s.

Nada disso, no entanto, é o foco das novas obras em tributo a Dalva de Oliveira.

Uma delas é o documentár­io que está sendo produzido pelo neto da cantora, o cineasta Bernardo Martins, filho de Pery. Trata-se de uma espécie de monólogo em que um neto fala sobre a avó famosa que não conheceu. “Demorei muito para compreende­r essa magnitude dela, porque eu não a conheci”, diz.

O filme, que tem previsão para ser lançado em outubro, contará com depoimento de artistas como Ney Matogrosso, Maria Bethânia e Adriana Esteves, que interpreto­u Dalva na minissérie global “Dalva e Herivelto”, de 2010.

“Eu tinha uma imagem preconcebi­da da mulher enfraqueci­da, submissa, pouco engajada com a feminilida­de e o feminismo”, diz Martins. “Hoje, eu tenho a noção de que ela foi muito forte, à frente de seu tempo, e quebrou tabus que são tabus até hoje”.

Ele refere-se não somente ao divórcio dos avós mas também a fatos como a reclusão bucólica de Dalva no bairro carioca de Jacarepagu­á e seu posterior namoro com um homem 20 anos mais novo.

“Descobri também que não existe uma separação entre a artista e uma pessoa, a Dalva se entregava”, diz Martins.

O documentár­io se apoia em uma pesquisa de oito anos feita pelo historiado­r Paulo Henrique de Lima, que deve publicá-la como uma biografia da cantora ainda neste ano.

“Conheci a Dalva quando ganhei um CD em que ela cantava bolero. Chamou-me a atenção a forma como era possível sentir cada palavra e o sentimento”, diz Lima.

Além de descrever a interpreta­ção “dramática, bem de tragédia” de Dalva, Lima quer evidenciar o início da carreira e a fama internacio­nal da cantora, abordando o período em que ela viveu na Argentina.

“Herivelto gostava de frisar que ele criou a Dalva, porque ensinou-lhe a disciplina, mas ela já era conhecida na imprensa dos anos 1930, no início de sua carreira, se destacando por sua voz e por ser uma cantora romântica quando o samba que era o auge.”

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Dalva de Oliveira, que completari­a cem anos nesta sexta
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