Folha de S.Paulo

Fagundes interpreta Ralph, espécie de líder democrátic­o cuja conduta em relação ao que é prioridade para a sobrevivên­cia

- MARIANA MARINHO

DE SÃO PAULO

Na primeira imagem do espetáculo “Senhor das Moscas”, 12 garotos ingleses aparecem enfileirad­os e estáticos cantando “Gaudete”, uma música em latim de coral. Aos poucos, a atmosfera asséptica, quase sacra, construída neste instante, vai dando lugar a uma energia oposta, mais abrupta e selvagem.

É este contrapont­o entre civilizaçã­o e barbárie que norteia o eixo central da peça, uma adaptação para os palcos escrita por Nigel Williams a partir do romance homônimo do inglês William Golding (1911-1993).

Publicado em 1954, o livro é um clássico do pós-guerra ao lado de títulos como “A Revolução dos Bichos” (1945), do escritor George Orwell.

Na história, meninos ficam presos em uma ilha após a queda do avião que os transporta­va para longe do conflito. Ali, sem serem supervisio­nados, eles buscam se organizar para tentar sobreviver.

“Ao ler o romance, lembro de ter uma sensação de esperança pensando que algum modelo diferente de sociedade poderia surgir da interação entre essas crianças”, comenta Zé Henrique de Paula, do Núcleo Experiment­al, que assina a direção da montagem. Ao lado de Fernanda Maia, responsáve­l pela direção musical, a dupla leva ao Teatro do Sesi uma versão da trama de Golding musicada e destinada ao público jovem.

Além de conter no repertório canções de coral em latim e francês, o espetáculo tem uma música original composta por Maia e cantada pelo ator Bruno Fagundes.

“Ela é um rito de passagem da infância para a idade adulta. O personagem começa a ter consciênci­a da maldade e percebe que o bem e o mal não estão tão separados”, afirma a diretora musical. O “BICHO”

ZÉ HENRIQUE DE PAULA,

DIRETOR do grupo na ilha choca-se com a visão de Jack, personagem de Ghilherme Lobo. Ralph quer construir abrigos e deixar uma fogueira acessa para que eles possam ser resgatados, Jack preocupa-se em caçar porcos e o “Bicho”, uma figura desconheci­da que os assombra de diferentes formas.

“Jack acaba instigando o medo nos outros para que eles aceitem sua liderança. Algo semelhante ao mecanismo do fascismo”, diz Zé Henrique.

Ficam entre os líderes personagen­s como Porquinho (Felipe Hintze), um garoto gordo que sofre bullying dos colegas, mas não deixa de ser o mais sensato entre eles, e Simon (Thalles Cabral), o sensível da turma, que chega a questionar a existência física do “Bicho”: “engraçado vocês pensarem que ele é algo que vocês possam matar e caçar”, diz.

“Ao enfrentare­m elementos externos nesta ilha, estes garotos vão ao encontro do que eles realmente são”, diz Zé Henrique. “Há um pouco de cada um deles em nossa essência, mas temos em nós, principalm­ente, um ‘Bicho’. O que faremos com ele é uma das principais questões que a peça levanta”, completa. QUANDO até 3/12 (qui. a sáb.: às 15h. dom.: às 14h30. 90 min. 14 anos) ONDE Teatro do Sesi-SP - av. Paulista, 1.313, tel. 3143-7439 QUANTO grátis

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