Folha de S.Paulo

‘Arromba!’ é um almanaque vertiginos­o dos anos 1960

- NELSON DE SÁ

Com três horas, “60! Década de Arromba” é um extenso almanaque daqueles tempos, com um pouco para todos os gostos populares.

O espetáculo se apresenta como “documentár­io musical” e traz gravações, fotos, recortes, muito bem escolhidos, curiosos, alguns até reveladore­s. Mas não tem nem pretende ter o rigor necessário para, de fato, documentar a época e seus conflitos.

É para fãs, sobretudo da Jovem Guarda de Roberto Carlos, mas também de quaisquer outros gêneros que deixaram marca então, brasileiro­s ou não. É uma viagem evocatória, para a maioria da plateia que lota o teatro.

O propósito do produtor e diretor Frederico Reder, que subiu ao palco para expressá-lo, é escapar dos musicais biográfico­s. Wanderléa está lá, com sucessos de juventude, mas seu papel é abrir as portas para a década.

Comemorand­o 70 anos, não tem agilidade, mas canta com precisão, é agradabilí­ssima e, quando avança no meio do público, os semblantes de alegria e os braços estendidos não são diferentes daqueles das cenas dos festivais e programas da Record.

O cenário é uma grande moldura de televisor de tubo, deixando claro que a inspiração é mesmo a TV daquela década, com a ligeireza e diversidad­e de sua programaçã­o, amontoando de Bossa Nova a “Repórter Esso”.

Quase sem diálogos e carregado de pot-pourris, o roteiro abundante de Marcos Nauer costura a década ano a ano, pontuando notícias e canções, sem perder o ritmo —como costuma ocorrer com narrativas cronológic­as.

Há omissões históricas como o golpe de 64, mas ao mesmo tempo um quadro para “Opinião”, musical que marcou naquele ano o início da resistênci­a à ditadura nas artes. E “Arromba!” é obcecado, curiosamen­te, pelas conquistas espaciais russas.

Está quase tudo lá, em poucos versos ou vídeos curtos, de Jerry Adriani a Chico Buarque e o Oficina de Zé Celso. Também a cantora italiana Rita Pavone, o assassinat­o de John Kennedy, a lista parece não ter fim. Abertament­e kitsch, mas envolvente.

À frente das velhas imagens, mais do que quadros com Wanderléa, “Arromba!” tem ao longo das três horas uma linha de coro pronta para todo gênero, com algumas vozes femininas arrebatado­ras e coreografi­as que avançam pela acrobacia. QUANDO qui. e sex., às 20h30; sáb., às 17h e 21h; dom., às 17h ONDE Theatro Net SP, Shopping Vila Olímpia, r. Olimpíadas, 360, 5º andar, tel. (11) 4003-1212 QUANTO R$ 40 a R$ 200; 12 anos AVALIAÇÃO muito bom

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