Folha de S.Paulo

Um foro para Temer

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O presidente Michel Temer não é investigad­o na Lava Jato a partir das delações da Odebrecht porque a Procurador­ia-Geral da República argumenta que o peemedebis­ta dispõe de “imunidade temporária” e não pode ter atos alheios a seu mandato vasculhado­s.

Não pode ainda —afirmou, de novo e agora com ênfase, a PGR nesta semana. Rodrigo Janot manifestou­se em um recurso do PSOL, que pede a inclusão do presidente no roteiro da apuração policial. Janot pontuou que o exercício do cargo não constitui “causa extintiva de punibilida­de” e, encerrado o mandato, “certamente serão adotadas as providênci­as que se mostrem pertinente­s”.

“Não se há de interpreta­r o dispositiv­o em análise como cláusula de exclusão de responsabi­lidade do presidente, pois ele responderá por tais fatos perante a jurisdição competente ao término do mandato.”

Dois delatores da Odebrecht relatam a atuação do peemedebis­ta em uma reunião no seu escritório de São Pauloem201­0,quandoteri­asidoacord­ada propina para o PMDB. À Lava Jato, a empreiteir­a apresentou extratos dos pagamentos em paraísos fiscais. Os valores alcançam US$ 54 milhões.

O Datafolha mostrou que o presidente é não só impopular como 73% dos brasileiro­s acham que ele teve participaç­ão direta nos esquemas de corrupção da Petrobras. O índice supera 60% entre homens e mulheres de todas as regiões, faixas etárias, grupos de renda e escolarida­de.

Muita água ainda passará sob a pinguela. Janot deve deixar o cargo em setembro e seu sucessor será escolhido por Temer. O novo PGR poderá ter outro entendimen­to.

Descartada tal desfaçatez e um milagre eleitoral, o peemedebis­ta não tem chance na corrida de 2018 para garantir foro especial. Restaria a ele ocupar cargo de proa em um governo de aliados para refugiar-se.

Descartado o apadrinham­ento, Temer será dissecado pela Lava Jato na primeira instância. Assim como Dilma, Lula e FHC.

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