Folha de S.Paulo

Muito claro para mim que ele tinha pleno conhecimen­to de tudo e tinha o comando.”

-

DE CURITIBA

O ex-diretor da Petrobras Renato Duque falou nesta sexta-feira (5) pela primeira vez à Justiça Federal e disse que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tinha “pleno conhecimen­to” de um esquema de pagamento de propina por empreiteir­as.

Em depoimento ao juiz Sergio Moro, Duque disse que se reuniu com Lula em 2014, já com a Lava Jato em andamento, e que ouviu que não poderia haver contas no exterior em nome do ex-diretor.

O ex-diretor, condenado em quatro ações da Lava Jato, com pena totalizand­o 57 anos de prisão, disse que o petista tinha “comando” sobre um esquema de pagamento de propinas em contratos da Sete Brasil, que fornecia sondas para a Petrobras, e que chegou a ser questionad­o sobre a demora na assinatura de um acordo, quando já tinha se desligado da estatal. Foram três encontros com o petista, afirmou no depoimento, de 2012 a 2014.

“Ele [Lula] me pergunta se eu tinha uma conta na Suíça com recebiment­os da empresa SBM, dizendo que a então presidente Dilma tinha recebido a informação de que um ex-diretor da Petrobras tinha recebido dinheiro em uma conta na Suíça, da SBM. Eu falei: ‘não, não tenho dinhei- somam mais 36 anos de prisão É réu em outras nove ações penais sob responsabi­lidade de Moro ro nenhum, nunca recebi dinheiro da SBM’.”

Duque diz que o encontro aconteceu no aeroporto de Congonhas, em São Paulo. E continuou: “Ele vira para mim e diz: ‘E das sondas, tem alguma coisa?’. E tinha. Falei: não, não tem. E ele falou: ‘Olha, presta a atenção: se tiver alguma coisa, não pode ter, entendeu? Não pode ter nada no teu nome.”

A seguir, disse o ex-diretor, Lula falou que iria “tranquiliz­ar” Dilma.

“Nessas três vezes, ficou Até então, preferiu ficar em silêncio em depoimento­s para o juiz federal e na CPI da Petrobras, em 2015 TESOUREIRO­S Duque, que está preso há dois anos e sempre se mantinha em silêncio em seus depoimento­s, afirmou que era “responsáve­l pela área do PT” na Petrobras e que, nos contratos da diretoria, o tesoureiro do partido procurava as empresas para pedir dinheiro.

“Inicialmen­te o Delúbio [Soares], depois o Paulo Ferreira e posteriorm­ente o [João] Vaccari. Tratei com os três”, afirmou.

O ex-diretor afirmou que, por indicação de Lula, Vaccari já fazia arrecadaçã­o na Petrobras mesmo antes de assumir o cargo de tesoureiro.

Falou ainda que foi chamado em Brasília pelo ex-ministro Paulo Bernando, que disse: ‘Você vai conhecer uma pessoa indicada pelo... [alisa a barba]’. Ele fazia esse movimento, não citava o nome”. “O presidente Lula era chamado de ‘chefe’, ‘nine’ [nove, em inglês, referência ao fato de não ter um dedo nas mãos] ou esse movimento com a mão [alisar a barba]”, disse.

Vaccari, disse ele, era o “homem do presidente”.

Segundo Duque, no PT, “todos sabiam” da existência do esquema. “Desde o presidente do partido, tesoureiro, secretário, deputados, senadores, todos”.

O ex-diretor da estatal disse na audiência que, apesar de não ser delator, tinha “intenção de atuar como colaborado­r”. Ele confessou que recebia propinas das empreiteir­as em contas no exterior, mas afirmou que aceitará abrir mão de todo o dinheiro e repatriá-lo. A defesa de Duque agora é comandada por Antonio Figueiredo Basto, advogado especialis­ta em delações.

“Quando atingiu US$ 10 milhões, eu pensei: isso é muito mais necessário do que eu necessito para viver e até a minha terceira geração”.

O depoimento foi realizado em uma ação penal em que o principal alvo é o ex-ministro Antonio Palocci e na qual Lula não é réu. (FELIPE BÄCHTOLD E JOSÉ MARQUES)

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil