Presença de Dirceu divide moradores de bairro de Brasília
Petista, que desde a noite de quinta está em prisão domiciliar, tem sido alvo de ataques e homenagens
Novo protesto foi organizado nesta sexta em frente ao prédio onde ele está; houve um princípio de confusão
Só se falava de uma coisa em uma das quadras do bairro Sudoeste, em Brasília, na manhã desta sexta-feira (5): a chegada de um novo morador, o ex-ministro José Dirceu.
O petista, que ficou preso um ano e nove meses pela Lava Jato, chegou na noite de quinta-feira (4) ao prédio de classe média alta e foi recebido por manifestantes contrários à sua soltura, que chegaram a invadir a garagem do edifício e cercar seu carro.
Se o assunto era o mesmo, as posições divergiam e causavam discussão entre os transeuntes. “É um tapa na cara da gente”, disse a pedagoga Zileide Danni à Folha.
Ao ouvir o assunto, a professora Regina Oliveira se aproxima: “É revoltante as pessoas hostilizarem uma pessoa só porque ela vem morar num prédio”, afirma. As duas discutem por algum tempo. Ao final, Danni pergunta à reportagem se a professora é parente de Dirceu. “Só pode ser, para defender bandido”, afirma a pedagoga.
Pouco depois, a também professora Márcia Ferreira, 70, aparece com orquídeas brancas, que entrega ao porteiro. “Para o guerrilho José Dirceu, que ajudou a nos livrar da ditadura.” Ela, que não mora no bairro, veio ao bloco onde o ex-ministro mora com a mulher, Simone, e sua filha mais nova, de seis anos, mostrar apoio.
A dentista Renata, que não quis dar o sobrenome, veio por volta das 11h deixar a filha de quatro anos com os avós, moradores do mesmo bloco que o petista. “Na nossa opinião política, ele não deveria ter sido solto não”, diz. “Mas a gente entende esse lado da família.”
Segundo ela, há uma preocupação sobre como a insatisfação dos vizinhos pode afetar a filha do ex-ministro. “A gente fica preocupado com uma possível hostilidade, porque é uma menina de seis anos esperando o pai ‘voltar de viagem’ e de repente não pode mais descer pra brincar?”.
A hostilidade vem de moradores e também de curiosos que passam pelo novo endereço de Dirceu. De um carro vermelho, o motorista grita palavras de ordem contra o petista. Há um cartaz no quarto andar do prédio no qual se lê: “Dirceu ladrão, seu lugar é na prisão”, em letras que pareciam ter sido desenhadas por uma criança.
Enquanto a reportagem da Folha esteve lá, Dirceu recebeu apenas a visita do ex-ministro Gilberto Carvalho, que na saída do prédio chegou a discutir com uma moradora.
Moradores organizaram um novo protesto em frente ao prédio na tarde desta sexta, e houve um princípio de confusão com apoiadores do petista, logo controlado.
Dirceu deixou a sede da Justiça Federal em Curitiba no fim da tarde de quarta (3), usando tornozeleira eletrônica e proibido de sair do país, um dia depois de a Segunda Turma do STF (Supremo Tribunal Federal) decidir soltá- lo, por três votos a dois.
Preso em 2015, ele já foi condenado duas vezes pelo juiz Sergio Moro, responsável pela Lava Jato na 1ª instância.
A princípio, Moro havia determinado que o petista passasse o tempo em liberdade em Vinhedo (interior de SP), onde residia antes de ser preso. A decisão foi revista após pedido da defesa.