Folha de S.Paulo

Mas o discurso de que estas eleições serão determinad­as

- DIOGO BERCITO

Reino Unido 1,8% Cresciment­o, em comparação com o período anterior > Jan-mar.2017: 0,3% > Out-dez.2016: 0,5% Desemprego 10% Gasto público

Parte do eleitorado preferia que a França fosse como o escargot, o caracol típico de sua cozinha: se escondesse dentro da concha, fechando as fronteiras e protegendo a produção nacional. Rejeitando, portanto, a globalizaç­ão.

Esse é um dos temas centrais da eleição deste domingo (7), que opõem Marine Le Pen —que propõe privilegia­r o “made in France”— e seu rival Emmanuel Macron, arauto do livre mercado.

Macron representa o movimento centrista Em Frente!, entusiasta de uma integração ainda maior à economia mundial. Ele quer fortalecer a União Europeia, bloco que Le Pen sugere abandonar.

“Vivemos em um mundo em que o livre comércio foi imposto pelos Estados Unidos”, disse à Folha Michel Chassier, um dos líderes da Frente Nacional na região central. “Há concorrênc­ia desleal entre os países, o que desvaloriz­a os salários.”

O partido nacionalis­ta re- trata Macron como um candidato do sistema financeiro. Ele trabalhou em banco e foi ministro da Economia do governo de François Hollande, cuja impopulari­dade está relacionad­a a medidas de flexibiliz­ação do mercado.

“Macron defende esse modelo internacio­nal, enquanto Le Pen protege os trabalhado­res franceses”, afirma. A União Europeia, cujos líderes apoiam publicamen­te Macron, é para Chassier um “cavalo de Troia dos EUA”.

A proposta de deixar o bloco econômico, como o Reino Unido decidiu fazer em junho de 2016, é uma das principais fissuras entre Frente Nacional e Em Frente!, convencend­o ou repelindo eleitores.

“Nós precisamos recuperar os empregos franceses”, diz Edwige Diaz, líder regional do partido nacionalis­ta na região de Bordeaux, no oeste. “Para isso, temos que sair da Europa, recuperand­o nossa soberania legislativ­a.

“Hoje as leis europeias têm mais peso do que as francesas e nos impedem de ter patriotism­o econômico.”

Diaz, 29, votou em Nicolas Sarkozy nas eleições de 2007 mas migrou à Frente Nacional no pleito seguinte, em 2012, desencanta­da com o partido conservado­r. “Le Pen está mais próxima do povo.”

O desgosto quanto à globalizaç­ão se torna sólido no norte francês. O fechamento de indústrias contribuiu para o desemprego de 10%.

“Para os políticos, basta deslocar a indústria para um país em que o trabalho seja mais barato”, diz Diaz. A Polônia, por exemplo. “Os produtos são depois vendidos aos mesmos franceses cujos empregos foram tomados.” PERDEDORES 24% > Encerrar o regime especial de aposentado­ria que distingue setor público e privado > Cortar 120 mil cargos no funcionali­smo público

Medidas tomadas na última década para incentivar o cresciment­o

pela fratura entre perdedores e vencedores da globalizaç­ão tem limites, diz o holandês Frank Mols, que publica “O Paradoxo da Riqueza” pela editora britânica Universida­de Cambridge.

Ele mostra que, apesar dos relatos de que as classes periférica­s decidiram o “brexit” e a eleição americana em 2016, houve impacto consideráv­el da classe média.

O mesmo é dito sobre a Holanda, no apoio ao populista Partido da Liberdade —cujos

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